quinta-feira, 6 de maio de 2010

apetece-me um beijo

apetece-me um beijo,
o mais simples de todos os beijos,
sem abraços,
sem desejos,
de mãos atrás das costas,
em bico dos pés.
apetece-me um beijo,
o mais natural de todos os beijos,
o mais corriqueiro,
o mais ordinário,
o mais sem graça.
será aquele que se pensa,
muito antes de o experimentarmos.
quero um beijo teu,
dá-mo agora!
nestas coordenadas do espaço-tempo,
aqui, aqui,
eu quero esses teus lábios nos meus,
quero que fiquem assim,
imóveis,
mas que se tocam bem de leve,
tão suave, deliciosamente.
e tão simples!
o difícil, aguentar esse beijo,
a vontade que dá,
que roí, corrói, moí, tritura,
só apetece ir mais além,
ao mais profundo,
juntar o abraço que esmaga os teus seios no meu peito,
invadir a tua boca e fazer da tua língua amigo de passeio,
juntas e valsam numa pirueta de desejo,
desejo crescente de te possuir!
mas não!
não!
não quero tal coisa!
não!
isso não é a minha vontade!
o que eu procuro,
o meu apetite é aquele simples beijo,
apenas um, rápido e de passagem.
só um, interminável,
sem cobertura,
sem recheio.
quero simplesmente por uma vontade incessável,
insaciável.
olhei-te e as sinapses nos neurónios,
as hormonas na libido acenderam o meu desejo de te beijar.
mas eu controlo-me,
porque eu quero um beijo tão simples,
a simplicidade de um toque de lábios e nada mais.
arrepia o nervosismo de não saber o passo seguinte,
espera-se, aguenta-se, sustenta-se o tom.
mas eu não quero esperar,
não posso esperar,
não admito que desapareça!
quero aquele beijo fim de almoço às duas horas,
antes de levantar a mesa,
antes de lavar os dentes,
antes mesmo da sobremesa,
tu comeste cebola e eu engoli alho,
bebeste limonada e eu cerveja,
o teu cabelo tem cheiro de batata frita,
o meu de grelhado.
sim, é mesmo isto que eu quero,
a simplicidade de um beijo teu.
só um,
daqueles bem bonitos,
só um,
inocente,
só um,
só meu.