quarta-feira, 30 de junho de 2010

o meu suspiro

como se conhece alguém, hoje em dia?
como se encontra outra pessoa?
como se faz para sair da solidão?
como se procura outra mão?
como se descobre seja quem for?
como se acha o amor?
eu já não sei. muito provavelmente, nunca o soube.

quando eu te vejo pela primeira vez,
sim, és bonita e eu reparo em ti.
e depois? tu nem me viste.
eu esqueço-me que estavas ali,
a vida continua.
até ao dia em que te contemplo de novo,
sim, continuas bonita e eu ainda reparo em ti.
e agora? desta não me sais da cabeça,
fico a sonhar contigo.

mas como pode este homem agir,
a quem tem de recorrer? eu não sei.
talvez seja esse o problema.
devo seguir-te?
que irás tu pensar?
que sou um terrorista do amor,
perdi-te de vez.
desperdicei tudo atrás de um sonho,
esse eras tu.
mas devo cruzar os braços, virar as costas?
se eu não te apanhar, vais tu correr para mim?
devo arrepender-me,
se por qualquer caminho que eu rume,
a minha casa não és tu?

detesto apaixonar-me,
detesto que existas,
detesto o amor,
detesto quem se apaixona,
detesto quem encontrou alguém
porque eu só tenho ninguém.
detesto ficar a sonhar,
detesto imaginar o que seria,
detesto o desejo de te ver,
detesto que te rias sem mim,
detesto ganhar coragem
para nunca te conseguir falar.

são aquelas noites em que me visto bem,
em que me vais sorrir e eu vou perceber-te.
na minha mente vais reparar quando eu passar,
comentar com a tua gente o gosto e o agrado.
este lobo solitário que uiva à roda pálida,
segue sem rumo no seu estilo abandonado.
e tu, que apenas consegues tentar evitar
a necessidade carnal de domar a fera,
levantaste (pode ser que seja desta)
que eu... eu cá fico à tua espera.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

desejo único

se eu tivesse um desejo no mundo, seria ver-te nua.

terça-feira, 22 de junho de 2010

verdadeiro amor

hoje tive uma epifania sobre o verdadeiro amor,
não foi tão dramática como a eureka de arquimedes
quando se apercebeu que o volume de qualquer corpo
pode ser calculado pela massa de água deslocada,
não, foi mais subtil, mas igualmente importante!
subitamente, como que naquele instante em que inspirei,
apercebi-me na facilidade do amor, o qual, na verdade,
nem requer ciência ou arte. só um pouco disto e daquilo.
é tão fácil de amar alguém que responde em tom igual,
já nem se pensa nisso. um ser tão simples,
o pequeno bebé já ama a sua mamã, que o ama de coração.
sim, é tão fácil que, será verdadeiramente amar?
tanto amou bocage,
custou-lhe a decência.
tanto amou marco antónio,
custou-lhe roma.
tanto amou camões,
custou-lhe um olho.
tanto amou d. pedro,
custou-lhe inês.
tanto amou romeu,
custou-lhe a vida.
só quem sente a impossibilidade a arder na pele pode alegar
conhecer o verdadeiro amor. aquele amor que em nós é carnal,
mas não passa de ilusão platónica neste mundo real.
amar intrinsecamente alguém acontece quando não ama de volta,
e continuar a amar, indefinidamente, desgraçadamente, sem nada
pedir, exigir, sequer sonhar em retorno.
sim, é esse o verdadeiro amor, altruísta e puro,
que nada requer além da vontade de existir.
como quem diz com um sorriso ao de leve e uma lágrima
'por favor, existe, para que eu te possa amar,
por favor, deixa-me ver-te uma vez por outra,
um instante e nem pensar parar.
por favor, respira, vive, salta, deixa-me ouvir-te cantar
nem que de longe, preciso sentir-te em algum lugar.
por favor, deixa-me, deixa-me só ficar aqui a amar.'

segunda-feira, 21 de junho de 2010

sexo

apeteceu-me escrever sobre sexo,
mesmo sem vontade ou algum nexo.
tentar ser como o tal de bocage
ficar à escuta de como ela reage.

de tanto prazer que trás ao nosso ser
ainda hoje é de pouco falar, pouco escrever.
lembrar a carnificina que aconteceu,
quando ela se despiu, foi ele que morreu.

o coração que bombeia a mil à hora
ao ver os seios dela aqui e agora,
o afluxo de sangue que chega e enrijece
quando daquelas pernas a saia desce.

se eu te tivesse aqui nos meus braços
os beijos pelo corpo seriam escassos,
mais perto do umbigo e continuar a descer
para te conseguir por toda estremecer.

daquelas mulheres, as que fingem,
tu és diferente, tu és virgem.
sinto a tua lubrificação natural
dar-me uma força, vontade animal.

a coisa deliciosa a que chamas cintura,
caminhas em lingerie e levas-me à loucura.
como me apetece atirar-te para a cama,
por mim tanto era no chão ou mesmo na lama.

quero deleitar-me em luxuria contigo
no nosso canto, pobre e humilde abrigo.
quero segurar-te as mamas na palma da mão,
fazer-te amor, lentamente, até mais não.

e à merda com todas as putas do mundo
que distorcem o sexo e o tornam imundo
com aqueles seus grandes conos desonrados
por tantos fidalgos de membros descuidados.

mas centro a minha atenção aqui em ti
de pensar tanta noite que já perdi,
fosse a nossa paixão começar mais cedo
que tudo logo abandonava o segredo.

se eu pudesse ter um desejo em solidão
seria ter-te aqui ao invés desta mão
que me arrasta em eterno desejo
de te possuir em muito mais que um beijo.

domingo, 20 de junho de 2010

o amor acontece

uma vez disseram-me que o amor não acontece,
que tem de se fazer o amor.
comparam a probabilidade de o amor acontecer,
sem o provocar, àquela de ganhar a lotaria
(ou encontrar um maço gordo de notas no chão).
eu cá não acredito nisto.
é óbvio que, para um ser isolado com fronteiras,
o amor não lhe bate à porta (e daí talvez,
uma bela rapariga que entregue cartas).
mas numa vida de interacção social, dita normal,
o amor acontece.
eu cá acredito que sim.
pode não se encontrar um maço gordo de notas no chão,
mas às vezes, um documento perdido é o suficiente.
uma cadela que se aproxima demasiado da nossa fera,
a bela dona lá vem de arrastão. a conversa de elevador
depressa se transforma em conversa de café à tarde.
não tarda surge um jantar fora e cinema
que termina à porta de casa dela, à chuva.
um beijo de despedida.
é óbvio, algumas das vezes, o ser é tão belo,
o aperto no coração tão forte que não há outra solução.
em pé de medo lá se aproxima dela e, com um leve toque
no ombro, só para captar a atenção, dizemos
'desculpa, acho que deixaste cair isto'. entregamos aquele
pedaço vergonhoso de papel amarrotado que diz em letra
bem tremida 'é mentira, só queria ver como és mesmo
toda a beleza que imagino, os teus olhos de perto são
espelho do meu coração liquefeito'. o mais importante é,
sem dúvida, aproveitar todo o tempo que se tem.
não o desperdiçar naquela busca fortuita e constante,
obsessiva, compulsiva e agonizante. assim o amor tem medo,
esconde-se.
o amor, esse acontece, eu cá acredito que sim. acontece a ti,
acontece a mim, acontece a ele e acontece a ela.
um dia, eu sei que sim, também vai acontecer a nós.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

meu cobertor

este planeta é um lar tão sombrio,
falta aquela estrela quando é de noite
e no inverno está sempre frio.
só consigo suportar a minha sorte
quando brilhas de candeeiro
e me cobres o corpo inteiro.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

a ruiva

conta-me curiosa criatura
porque te vestes assim,
porque ousas tu tentar-me deste modo,
com o teu cheiro a pérola francesa,
cabelo apanhado à inglesa
e essa cor incandescente?

com as tua manias,
não vês que me dás a volta a cabeça?
torturas-me numa prisão infernal
onde escapar é pior que a sentença!
só te questiono, como te atreves
em aparecer aqui sem licença?

consegues levar um homem à bebida,
tornar-se escarno da sociedade,
que perder-me em ti não é uma boa saída,
mas oh que sou escravo de verdade.
de calções curtos e as saias da tua mãe,
tu deixas-me louco como ninguém.

que pele pálida como a neve,
olho desconhecido, espreitar nem atreve.
se eu fosse coelho mágico de cartola,
ilusionista faz-me agora desaparecer,
que tu, fosses uma rapariga como deve ser,
ficavas aqui, comigo na gaiola.

pára de me provocar!
é de noite e tu tão longe, não sei onde,
como consegues ainda me atormentar?
eu noto que me olhas sem enganar,
mas quando eu te procuro
és tu a virar a cabeça para o ar.

amanhã vou agarrar-te pelo braço,
vou fitar-te de bem zangado.
eu estou aqui morto de cansaço
e aguento este corpo arrepiado.
amanhã vou dar-te um daqueles berros
que te atira o coração fora das costelas.

vais chamar-me de estranho, eu sei,
mas tu, o que tu não sabes é triste.
vou roubar-te um beijo molhado,
sabes porquê? porque tu pediste,
com o teu passear provocante,
riso hilariante.

dás-me tu uma estalada valente,
mas eu, com o beijo, estou contente.
mordia-te a cova do queixo
para ficar sóbrio da bebida,
para sentires alguma da dor
que mais passa despercebida.

quero arranjar alguma coragem,
esquecer-me desta viagem,
entornar uma garrafa de escocês
até perder os sentidos de vez.
é esse teu incandescente
que faz de mim besta inconsciente.

para nunca mais tornar a beber,
para nunca mais me arrepender,
se beber que seja para morrer
ou de tudo esquecer.
neste estado animal em que te amei
são as palavras mais sinceras que jamais te direi.

domingo, 13 de junho de 2010

fruto proibido

disseram-me que estou melhor sem te ver,
proibiram-me de me aproximar e dizer
és a mais bela das criaturas do universo,
em ti se converge o meu olhar disperso.

que me enclausurem em muros de betão,
por cada um que suba, um mais alto erguerão,
as palavras ensanguentadas que me cravam
não vão ser abafadas por aqueles que me travam.

vou dizer-te daqui um adeus e até logo,
um dia sem te ver e parece que me afogo,
para parecer que um reencontro espero,
não te conheço e já assim desespero.

da última vez que te vi,
virei a cara e a medo lá sorri,
não fosses quiçá tu entender
arrasto-me em sonho de te ter.

tudo mais que te gostaria de berrar,
sair para fora e deixar-me lá ficar
até que fosse conhecimento popular
como este coração consegues arrancar.

percorreria o país de norte a sul,
visitaria qualquer e outro cônsul
do mais liberal ao mais guerreiro,
ser-te cordial e não grosseiro.

seja o que for, desejes ou precises,
um casaco sobre o chão que pises.
este e aquele fruto proibido,
de todos, és o mais apetecido.

tanto para poder encontrar, ter um pouco
deste emoção que me deixa completamente louco.
começa na mais grave e termina naquela bem aguda,
a cativante nota que não tarda me ensurda.

se eu te pudesse ter aqui um só segundo,
segurar-te a mão e possuir o mundo
até o tempo nos teus olhos parar
e a ferida que tenho em mim sarar.

se te visse passar diante de mim,
impotente para te alcançar, seria o fim.
aproximo-me demasiado que dói
saber o que podia e agora já foi.

quando não me esqueço até irrita,
pensar no quanto tu és mesmo bonita,
relembrar aquela memória inventada
os dois juntos na pequena varanda.

diz que me devo enfim declarar
e esta máscara possa finalmente retirar,
deixar de ser a sombra a teus pés
para tornar-me tudo o que vês.

de cada vez que me apaixono
é uma estrada sem retorno,
atiro o velocímetro à sorte
que parar-me só em morte.

isto no meu peito é um sentimento
que chega a ser arrependimento,
quando fito o mundo tudo mexe
mas em mim já nada cresce.

eu sei que somos perfeitos estranhos
um vulto nos teus olhos castanhos,
mas eu vou continuar aqui à espera
que um dia digas 'e aquele, quem era?'.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

sente-se de longe

o perfume que imagino,
porque não sinto,
porque passa distante.

os seios que toco
só na ilusão,
só no desejo.

os olhos que devoro,
são castanho sol,
são imperadores.

as pernas que recorto
e guardo só para mim
e sonho me envolverem.

toda a perfeição de divina
renegada se esconde na terra
à mercê da luxuria,
perversão do homem.
também às minhas depravações,
sombrias fantasias.

a virgindade que te furto
quando te estupro dos órgãos,
aqueles que não precisas
são todos inúteis,
menos o coração.
o coração é meu.
já o violei,
provei de inocência,
agora possesso-o.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

que não merece

eras tu donzela,
nos teus olhos brilho de estrela.
eras tu paixão,
a ti obrigava o coração.
mulher imaculada,
não te cobicei nem assim,
que sem seres amada
te guardaste enfim.
querido verdadeiro amor,
amor que eu nunca amei,
'leve o tempo que for',
cantavas, 'para sempre esperarei'.
não mereces tal órgão criatura,
está usado, podre de dor e casca dura.
anjo do céu que
jamais revelaste esse véu,
corre por favor, foge,
leva daqui esse mel
e faz com que seja hoje,
que o mundo deixe de ser cruel.
ofereço-te em felicidade,
esta que não te pude dar,
um beijo de simplicidade
daquele que não te soube amar.
hoje ardo na penumbra do inferno,
nas labaredas do próprio belzebu
e aquele beijo terno,
o mais saboroso eras tu.
perco-me em ilusões de ti
mas em verdade não te desejo,
convence-te então que fugi
ou que aqui me esquartejo.
se faltar e esquecer
o ósculo que dizes merecer,
sem as amarras digo: amo-te!
não com o coração que tive,
mas com a vontade que sempre sonhei.

terça-feira, 8 de junho de 2010

caneta, papel e adeus

este é, sem dúvida,
o mundo mais estranho onde já vivi.
amar aqui, não significa necessariamente,
ser amado também.
decidi regressar ao lugar mais perfeito que já conheci.
e lá... lá sim! vou amar e apaixonar,
ser amado como ninguém!

façam do meu corpo o que vos convém,
já não é meu, nunca o foi! era teu.
aqueles a quem a minha falta se fizer sentida,
deixo nada, um moribundo romeo.
sou finalmente livre, as algemas caíram
aos meus pés para cometer todos os crimes.
recluso nesta dor que me consome
de te perder de vez para esta forca de ciúmes.

tu sabes quem sou.
violavas-me nos teus sonhos mais pacíficos.
e eu? estripava-te em seguida dos gritos,
gemidos de casto prazer.
mas esta paixão meu amor,
devora-nos dos sentimentos mais intrínsecos.
eu só espero que jamais alguém descubra
a coisa que é saber sofrer.

este silêncio imundo é o meu fiel parceiro,
a orelha do surdo que me guia na escuridão
onde os olhos do cego são o meu isqueiro,
eu desapareço sem contrição ou pedir perdão.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

ciúme

labaredas, fornalhas do inferno,
lamúrias - percorrem na espinha,
vem-me atormentar até à lágrima,
sentimento que nada traz de terno.

fervilha de raiva, assim avança,
na memória - o plano de sangue,
fazê-lo parar nada consegue,
nem o sorriso de uma criança!

esta dor consome-me as entranhas,
pela carne, osso e alma sem trave.
ofega de novo o mal ao mundo.

olhares fixos, coisas mais estranhas,
entre nós - nem se vê quanto é grave,
percebe-se… é obsessão no fundo.

domingo, 6 de junho de 2010

quero ser

às vezes sonho ser água,
capaz de evaporar e desaparecer,
nem preciso de esconderijo.
se fosse água,
tudo se difundiria,
os problemas,
esses não seriam mais meus.

sábado, 5 de junho de 2010

a fantasiar

deixa-me continuar a sonhar em esplendor,
tentar extinguir o obstáculo do tempo.
conquistar os monstros do nosso terror,
deleitar no infinito e no vento.

é errado deambular neste mundo tão real,
onde se anulam o arbítrio e as razões.
pudéssemos ter uma existência sem igual
encantada de príncipes, até de dragões!

segue-me! vem comigo aquela terra impossível,
onde a cada princesa corresponde um só sapo,
onde cada paixão é um só sistema isolado.

mas a barreira da física é intransponível.
humanamente aprisionados a este maldito chão,
que em alma nos limita apenas o coração!

sexta-feira, 4 de junho de 2010

o adeus verdadeiro

é aquele que não se repete.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

a minha estrela

estrela,
és tu quem me chama?
quando as luzes se apagam sobre mim,
o pescoço arqueia sem fim,
vislumbro o firmamento.
és tu, quem me ama.

estrela,
o nosso amor é demais pungente.
a passagem do tempo é fria,
sem saudade, latente.
o nosso amor platónico,
mais penetrante que o dessa gente.

estrela do norte ou estrela do sul,
cintilas tão forte no teu vestido azul,
esperas sem sorte em silêncio berrante,
gloriosa morte e foi tudo um instante,
um instante neste universo elefante.

estrela,
esta mágoa jamais alguém entenderá,
a partida, a saudade ou o desejo carnal,
a vontade de possuir ou eu sei lá.
contamos pelos dedos em conjunto:
um, dois, três - a sentença é final.

estrela,
tu que sempre exististe por esse lugar,
a amar infernalmente nesse ténue luar,
aguardaste eternamente a imagem aqui
daquele que mais desejavas ter por aí,
o espaço e o tempo são irmãos de armas.

estrela minha, todo eu sou teu
mais tudo o que tenha ou considere meu.
pureza sempiterna que guardaste para mim,
na tua caixa de brinquedos, és inocente assim.
que não te prives mais gostava eu de dizer,
pelas noites adiante não saberia o que fazer.

estrela,
o olá que sabe a adeus.
quando também eu partir,
para outro lugar e a sorrir,
são os beijos, nunca teus.
o amor é sempre nosso,
num abraço e remorso.

tu,
que sempre esperaste,
que agora me tens,
mais uma vez me perdes.
dor decadente.
eu,
que efémera vida tenho,
sempre te tive,
efervescente.
um desenho.

estrela,
vou partir,
deste lugar saltar e fugir,
sem réstia de vontade.
a tua sina é continuar a fingir
que amor eterno é,
para quem importe,
uma cintilante verdade.