quinta-feira, 17 de junho de 2010

a ruiva

conta-me curiosa criatura
porque te vestes assim,
porque ousas tu tentar-me deste modo,
com o teu cheiro a pérola francesa,
cabelo apanhado à inglesa
e essa cor incandescente?

com as tua manias,
não vês que me dás a volta a cabeça?
torturas-me numa prisão infernal
onde escapar é pior que a sentença!
só te questiono, como te atreves
em aparecer aqui sem licença?

consegues levar um homem à bebida,
tornar-se escarno da sociedade,
que perder-me em ti não é uma boa saída,
mas oh que sou escravo de verdade.
de calções curtos e as saias da tua mãe,
tu deixas-me louco como ninguém.

que pele pálida como a neve,
olho desconhecido, espreitar nem atreve.
se eu fosse coelho mágico de cartola,
ilusionista faz-me agora desaparecer,
que tu, fosses uma rapariga como deve ser,
ficavas aqui, comigo na gaiola.

pára de me provocar!
é de noite e tu tão longe, não sei onde,
como consegues ainda me atormentar?
eu noto que me olhas sem enganar,
mas quando eu te procuro
és tu a virar a cabeça para o ar.

amanhã vou agarrar-te pelo braço,
vou fitar-te de bem zangado.
eu estou aqui morto de cansaço
e aguento este corpo arrepiado.
amanhã vou dar-te um daqueles berros
que te atira o coração fora das costelas.

vais chamar-me de estranho, eu sei,
mas tu, o que tu não sabes é triste.
vou roubar-te um beijo molhado,
sabes porquê? porque tu pediste,
com o teu passear provocante,
riso hilariante.

dás-me tu uma estalada valente,
mas eu, com o beijo, estou contente.
mordia-te a cova do queixo
para ficar sóbrio da bebida,
para sentires alguma da dor
que mais passa despercebida.

quero arranjar alguma coragem,
esquecer-me desta viagem,
entornar uma garrafa de escocês
até perder os sentidos de vez.
é esse teu incandescente
que faz de mim besta inconsciente.

para nunca mais tornar a beber,
para nunca mais me arrepender,
se beber que seja para morrer
ou de tudo esquecer.
neste estado animal em que te amei
são as palavras mais sinceras que jamais te direi.