quinta-feira, 9 de setembro de 2010

varreu-se o chão

é que hoje eu caí e ninguém me levantou do chão,
passaram ao lado e ninguém me estendeu a mão,
olharam para a minha sujidade com desdém,
contornaram a silhueta e contaram até cem.

mas o dia passou e hoje eu estou de pé,
de pé porque ainda não me ofereceram o chão,
nesta minha forma bípede em que perco a fé,
aquela que tinha e se estilhaçou então.

cruzei-me contigo por mero acaso,
quando me empurraram ao teu encontro,
e com o nosso breve confronto,
achei vontade para mais um passo.

desejo agora todos os meus dias,
que a ti me sujeitem novamente,
que me submetam dolorosamente,
ao abraço das tuas pedras frias.

é que eu antes estava bem e levaram-me ao chão,
agora que te provei, nada mais quero eu não,
deixem-me na minha miséria a deleitar por aí,
reneguei ao conforto quando daquela cama caí.

de pensar que sempre lá estiveste,
a segurar-me no mundo, com o teu abraço,
mas aquele amor que nunca tiveste,
rego-to agora nas gotas do meu cansaço.

eu só queria o mundo de almas vazio,
um lugar a sós contigo,
deitar a cara no teu ventre macio,
chamar-te o meu único amigo.

digo com a maior das clarezas,
quem me tira o chão, tira tudo,
que esse está lá, sobretudo,
na queda das maiores belezas.