segunda-feira, 15 de novembro de 2010

a minha história

podia muito bem ser assim,
cheia de mistério, aventura ou simples fantasia e brincadeira.
quando nasci, houve uma complicação durante o parto.
aqueles breves segundos sem oxigénio,
uma eternidade onde assisti à minha morte,
viriam a revelar-se a coisa mais caricata.
é que, um homem que sabe a data e condição da sua partida,
não teme nada e sujeita-se a ninguém! desconhece o medo.
já sabe que, aconteça o que acontecer, tudo irá correr bem.
não é esse o momento de ir embora, ainda não.
mas, apenas poucos afortunados - como eu - têm essa sorte.
aos outros é-lhes dito
"vivam como se conhecessem a vossa morte,
temam nada, experimentem tudo!"
e esses são os verdadeiros valentes deste mundo,
são os que enfrentam o desconhecido com coragem,
que eu o enfrento porque sei que não me fará mal.
o que consegui deslumbrar pelo meio da névoa,
um imenso campo de margaridas ao pé do rio.
meia dúzia de pessoas e não reconheci uma
(porque quando nasci só vi um médico barbudo).
estavam felizes, contentes e eu também!
este mundo é demasiado real e eu não quis fazer parte dele,
mas não vivi uma fantasia, não. não cedi à loucura.
a verdade, é que não tenho bem a certeza.
não sei ao certo se foi real ou fantasia, mas foi bom.
vivi com os pés na terra,
com a cabeça no céu
e com o coração em lugar indeterminado!
os cinco sentidos que me transportaram no mundo real,
o sexto que me aventurou em mundos mais fantásticos
que a imaginação humana algum dia conseguirá criar.
no tempo de uma só vida, eu vivi duas em mundos diferentes.
este aqui era real demais,
aquele perfeita mentira. mas fui fugindo de um para o outro.
agora, que me encontro por entre as margaridas,
observo o rio que me acolhe no adeus,
que me vai abrigar eternamente entre as duas margens.
uma, o meu mundo real,
onde confino o meu coração.
a outra, o meu mundo surreal,
onde confino as minhas asas.
passeei pela vida em sapatos sempre confortáveis.
deito-os fora, agora vou descalço.
o último caminho que tem de doer, marcar chagas,
ou aqueles que me trouxeram aqui não tiveram qualquer sentido.