terça-feira, 9 de novembro de 2010

pensamentos sobre a ciência e algum amor

revolucionou o mundo científico no ano de 1905 com a teoria da relatividade especial (ou restrita). Albert Einstein - com significantes contribuições de outros colegas - generalizou o principio da relatividade de Galileo. toda a forma de movimento é relativa (a algo, entenda-se) e não existe algo como o conceito de repouso absoluto. todos nós já, em algum momento da nossa vida, amaldiçoá-mos o destino do condutor intrépido que segue a 80 km/h no centro da nossa cidade, deixando atrás de si um rasto de poluição sonora e sentimento de apreensão. é verdade que, à semelhança da experiência anterior, também nós já nos irritámos o suficiente para descarregar a ira na buzina do carro - de modo a expressar o nosso desagrado - pelo facto de, o condutor que segue à nossa frente, viajar na auto-estrada a uma velocidade de 80 km/h. a velocidade é relativa, assim como tudo no nosso universo conhecido. na verdade, a premissa revolucionária de einstein é de que o tempo também é relativo. é verdade. segundo um exemplo do mesmo senhor, se colocar a mão na chama quente do fogão durante um minuto, tal irá parecer uma hora. contudo, se passar uma hora com uma mulher bonita, tal irá parecer um minuto.
não será correcto, contudo, atribuir todo o esplendor da relatividade aos fantásticos fenómenos da física. de facto, como referi anteriormente, tudo no universo conhecido é relativo. o amor é relativo (já mencionei aqui), a beleza é relativa, a felicidade e a tristeza são relativas. existirá uma mulher mais bonita do que todas as outras? estaríamos cientes do conceito de felicidade sem conhecer o seu oposto?
a verdade é que muito da nossa vida pode ser descrito com um gráfico semelhante ao de cima (para quem importar, dá pelo nome de distribuição normal). se considerarmos que a curva engloba toda a população de homo sapiens e que a média de beleza representa alguém que não é particularmente bonito nem particularmente feio, então a generalidade da população encontrar-se-há nessa situação (daí o pico da curva). à medida que nos afastamos do que é ordinário, seja para o lado negativo, seja para o lado positivo, podemos reparar que a percentagem de pessoas que se encontram nessa situação diminui, primeiro abruptamente e depois ligeiramente. levado ao extremo, podemos concluir que apenas uma muito pequena percentagem da população entrará na categoria de muito feio ou de muito bonito. cerca de 68% da população encontra-se em torno da média (relembrar as aulas de matemática de quando éramos mais pequenos), o que significa que quando surge alguém que esteja um pouco abaixo ou acima do resto do comum mortal, este repara no curioso ser.
a verdade é que, após eras de selecção natural, o ser humano - assim como a maioria dos restantes ser vivos complexos - adquiriu uma capacidade natural e cognitiva de escolher um parceiro com base naquilo a que usualmente chamamos atracção física e que quantificamos como beleza. tal como todas as outras grandezas de medida, esta também é relativa. varia de pessoa para pessoa, de cultura para cultura. geralmente, as pessoas consideradas acima da média (ou bonitas) são também as que contêm as melhores características para transmitir à geração futura. isto é, tipicamente são pessoas com inteligência acima da média, robustez física superior (entenda-se como pessoas altas e fortes) ou que possuem características exóticas. são também, na maioria das vezes, pessoas menos susceptíveis a doenças. de alguma forma, através de milhões de anos de evolução, adquirimos alguma triagem de características aparentemente invisíveis. isto é o que garante, de facto, a adaptação ao meio envolvente e a sobrevivência da espécie. contudo, com o avanço da medicina e da tecnologia prevejo dois resultados possíveis. no primeiro, a curva que apresentei acima deixa de ser aplicável, toda a população é englobada pela média. ou seja, toda a população é robusta e não possui deficiências. no segundo, a mesma curva é completamente achatada, deixando de haver uma média. ou seja, toda a população sobrevive às doenças e supera os obstáculos independentemente da sua robustez ou incapacidade. contudo, o conceito de beleza nunca deixará de ser relativo. quando todos somos iguais, ainda há alguém que se destaca.
além da relatividade, existe também um conceito omnipresente de causa-efeito, mesmo para quem não esteja familiarizado com mecânica newtiniana. o universo não só é relativo como também anda sempre aos pares e, num contexto de relatividade, se um for a acção, o outro será inequivocamente a reacção. fugindo ao abstracto, para alguém ser feliz tem de ter sido infeliz primeiro (relatividade) e alguém tem de ser infeliz também (causa-efeito). de certo, se fossemos sempre felizes não o saberíamos. tal coisa coisa nem seria um conceito, pois sem termo de comparação seria considerado absoluto (ainda que nada seja absoluto). só há uma maneira de ser incrivelmente feliz e consiste em ser terrivelmente miserável primeiro. assim, todas as pequenas coisas (referência a esta conversa) agradáveis contribuirão enormemente para a felicidade ao que, para o comum do mortal - que nem é muito feliz nem muito triste -, as coisas simples passam-lhe ao lado. apenas é feliz quando algo de muito bom acontece e todos sabemos que tal não acontece com a frequência que desejaríamos. se fossemos todos felizes, vai de encontro com a felicidade relativa, mas vai além mais. o ser humano já demonstrou ao longo de toda a história (entenda-se como o momento em que se inventou a escrita) que tal utopia é inatingível - inclusive, vai contra a segunda lei da termodinâmica - uma vez que milhares de anos não conseguiram cessar as suas guerras e invejas. haverá sempre alguém feliz à custa de outrem e esse outrem irá tentar ser feliz à custa de um terceiro. é pura e simples natureza humana, que nada mais é que um espelho das leis que regem o nosso universo. afinal, nós somos matéria constituinte dele.