domingo, 27 de março de 2011

escultora

trata-me como escravo
e escravo serei,
crava-me um cravo
e um cravo terei.

faz de mim bajulador
e bajulações bajularei,
chaga-me chagas
e das chagas cuidarei.

cria-me como besta
e como besta agirei,
afasta-me como monstro
e em monstro me tornarei.

cuida-me com desdém
e desdém eu te darei,
abandona-me aqui, além
e de tudo fugirei.

adorna-me em afectos
e aos afectos me habituarei,
mata-me sem eles
e sem eles morrerei.

olha-me como cobarde
e como cobarde lutarei,
atira-me com estacas
e as estacas guardarei.

pinta-me de inútil
e eu inútil serei,
lava-me em água fria
e de frio tremerei.

esculpe-me de verme
e como verme rastejarei,
mas jamais negues
que eu um dia te amei.