quinta-feira, 16 de junho de 2011

no hotel de belém

ao entrar no quarto,
        não se ouviu um som.
        tudo parecia bom,
                fosse aqui ou além.
mas eis que do fundo surgiu,
                uma voz a gritar "ninguém".

desci rapidamente as escadas.
        "o lugar está vazio",
        garantiu o senhorio,
                "não há maior paz em belém".
mas eu juro, de novo, ter ouvido,
                um sussurro pronunciar "ninguém".

deitei-me e cobri a cabeça.
        "só pode ser alucinação,
        acalma-te coração!"
                cerrei os olhos e contei até cem.
mas estava prestes a dormir,
                quando o silêncio mencionou "ninguém".

não existem fantasmas.
        algo se esconde, certamente.
        "mostra-te, cobarde latente!"
                "o que seria?" pensei eu, "quem?"
mas a resposta era repetitiva,
                nada mais do que "ninguém".

virei o quarto do avesso,
        comportei-me como louco,
        desisti e pensei um pouco.
                conclui não haver sombra de alguém.
mas quando olhei pela janela,
                eu vi um corvo proclamar "ninguém".

questionei o pássaro negro,
        inquiri-lhe, talvez a medo,
        esperei ouvir em segredo.
                "o meu pobre coração, quem o tem?"
como se nada tivesse ouvido,
                continuou repercutindo "ninguém".