quinta-feira, 2 de junho de 2011

um outro eu

proponho, para hoje, uma pequena experiência de pensamento. o assunto que trago no bolso, e exponho agora, é esse que tanto me fascina. vamos então tomar o nosso lugar e pensar sobre as engrenagens do universo. devo apenas, antes de mais, salientar que isto se trata explicitamente de uma actividade lúdica e que, mesmo referenciado certas verdades científicas, deve ser encarado como uma pequena brincadeira. um jogo, para os aficionados como eu. vamos começar pelo nosso pequeno recanto, o humilde planeta azul e os seus magníficos habitantes. existem mais estrelas no céu visível do que grãos de areia em todas as praias do mundo, podemos apenas supor quantas outras tantas se escondem para lá desta fronteira esférica. sabemos que o nosso sol é uma estrela bastante humilde e, acima de tudo, comum. recentemente confirmámos a existência de outros sistemas solares, aparte do nosso próprio. podemos assim concluir que o que julgamos ter de tão único e especial, na verdade, pode ser a regra e não a excepção. falo unicamente das massas rochosas - ou não - que circulam fornalhas de hélio. as estimativas podem ser bastante conservadoras, mas ainda restam milhares de milhões de sistemas em todo o universo observável. para mim, e esta parte é já especulativa e pessoal, a existência de vida em paralelo com a nossa é uma certeza. não significa que tenha evoluído tanto como aqui, na terra, mas, pelo menos, até ao estado microbial. o qual se torne perfeitamente reconhecível por nós. só pelas leis do acaso, ou a matemática das probabilidades, temos de aceitar que, assumindo a minha especulação anterior e admitindo que alguma vida possa ser tão exótica que será sempre irreconhecível aos nossos olhos, pelo menos, em alguma parte desta vasta imensidão, a química tenha seguido um rumo semelhante ao nosso. assumindo o que foi debatido anteriormente como o ponto de partida, a verdadeira experiência começa agora. é plausível admitir, até prova irrefutável do seu contrário, que, algures na noite, sobre nós a química tenha dado origem a seres unicelulares complexos, em tudo semelhantes à sopa primordial do nosso próprio planeta. voltemos a pensar nas probabilidades. mesmo que apenas uns poucos milhares de sistemas planetários incluam um corpo rochoso com condições similares a este nosso oásis estelar, podemos continuar a especular que pelo menos um tenha sobrevivido o tempo suficiente para que esse esboço de vida tenha evoluído para formas ainda mais complexas. é possível não estar perceptível, neste momento, onde pretendo chegar. vou pedir agora que demos um pequeno passo de gigante, rogando uma última vez ajuda às leis do acaso. suponhamos que exista, neste imensurável vazio tão repleto, um planeta inserido num sistema com condições idênticas àquelas encontradas no nosso. uma pequena nota, para relembrar a importância das probabilidades num espaço de acontecimentos quase infinito. o universo é muito maior do que aquilo que conseguimos ver. este expande-se a uma velocidade superior à da radiação electromagnética no vácuo (velocidade da luz), o que nos limita o campo de visão igualmente em todas as direcções, formando à nossa volta uma imensa esfera-prisão. retornando à nossa linha de pensamento. suponhamos que o somatório de todos os eventos que ocorreram nesse planeta o levaram a tornar-se uma cópia exacta do nosso. não antes, não depois, mas em paralelo connosco, neste preciso momento. este texto escrito por uma versão distante de mim mesmo. será um paradoxo? a verdade é que a simultaneidade é uma realidade-ilusão. nunca iremos ter a certeza de que algo ocorre, realmente, no mesmo instante, uma vez que, para observar algo, esse evento tem de já ter ocorrido e, por conseguinte, pertencer ao passado. ou seja, tudo o que constitui o universo não é nada mais do que pequenos fragmentos de uma matéria temporal. e o tempo, que nos parece algo tão fluído e contínuo, pode muito bem ser uma dimensão discreta - ou por impulsos. este conjunto de informação unitária, quando somado sobre um emaranhado de diversos eixos de tempo cruzados, dá origem às dimensões e tudo o que nos rodeia. ainda que esses eixos sejam infinitos, podemos arbitrar um ponto qualquer sobre eles e designá-lo como uma origem - ou referência. a partir desse ponto, reparamos de imediato em padrões (a nossa espécie adora-os) e começamos a inferir sobre eles. uma vez que o que verdadeiramente separa o planeta que descrevemos do nosso é o tempo, e não o espaço, se eu enviasse um presente ao meu outro eu, e ele obviamente iria enviar o mesmo presente para mim, o que aconteceria a meio do percurso, quando os dois se encontrassem? a verdade é que o presente dele viria para mim e o meu seguiria o resto do caminho até ele (pode parecer um pouco óbvio, e é). e se, o ponto a que chamei o meio do percurso, não for nada mais do que um espelho cósmico? algo onde a minha mensagem é reflectida de volta para mim e eu sou iludido do facto de que existe um outro eu num planeta idêntico. ao percorrer o circuito do eixo temporal, impulso atrás de impulso, a encomenda contornou o universo, saltou de um eixo temporal para o outro, numa intersecção do emaranhado, e retornou. isto porque, se o tempo não for contínuo, o que forçará o impulso seguinte a permanecer no mesmo eixo que o impulso que o precedeu e deu origem? à semelhança do que se passa com o pequeno electrão. o qual, segundo a mecânica quântica, é a única partícula passível de transitar entre duas posições sem ocupar nenhum espaço intermédio. esta é a minha experiência de pensamento e que deixo aqui para o entretenimento dos mais audazes. uma última nota, para quem possa supor que o espelho cósmico que referi pareça indicar a existência de um semi-eixo (com início, mas sem fim), na verdade trata-se de um cruzamento de eixos, ambos infinitos.