terça-feira, 30 de agosto de 2011

fugir

eram nossas, as palavras soltas,
também as vogais e consoantes.
mas foram as outras - ocultas,
que, enfim, nos tornaram distantes.

ouço lá fora um intrigante ruído,
perfurante - como algo a partir.
não é um sólido ou um fluído,
és somente tu a fugir.

para trás - que tens de voltar,
ficaram arrumadas as memórias.
a menos que nada queiras lembrar,
esquecer as infames glórias.

vejo lá fora um transeunte voltado,
nada trás e continua a sorrir.
não foi expulso ou roubado,
és somente tu a fugir.

jamais escutarei um novo som,
para outro dia os olhos abrirei.
fico aqui - o que resta é bom,
onde ainda me chamam rei.

sinto lá fora uma presença,
observa sem se fazer sentir.
não é chuva ou sentença,
és somente tu a fugir.