terça-feira, 7 de agosto de 2012

pária

minha afamada sociedade,
há muito me julgas tu,
tinha eu tenra idade
e vestia-me de nu.

quem te fez júri e juiz
pensava menos que eu,
que muito de bom fiz
e de nada me valeu.

trago a alma marcada
e o coração corrupto
pela tua cruz amada
que fez de mim bruto.

há passado e futuro,
um certo e um incerto,
o inocente paga duro
pelos crimes a descoberto.

infiltrei-me na noite negra
para esconder o que vês
e estuprar a tua regra
na minha sóbria embriaguez.

já nada me dá conforto,
nem a prostituta de farda,
o homem em mim está morto
e este corpo não tarda.

se sentiste compaixão,
foi delírio com certeza,
trocaste o sim pelo não
e o cruel por gentileza.

pobre de mim - coitado,
tenho tudo e tenho nada,
sou um vadio abandonado
numa berma de estrada.

cerra esses olhos demónios,
esquece-te deste vil animal
que destruiu mil matrimónios
e os repudiou sem igual.

hás-de ver o teu fim chegar
em murmúrios de traição
e quando a faca te apunhalar
ninguém te levantará do chão.