quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

a inércia do amor

por ser, quiçá, tão banal, ninguém pensa devidamente no assunto. tomam-no como um pilar do universo, que existe, tem a sua função e desde que a cumpra, ninguém se lembra sequer que está lá. a verdade é que o amor possui inércia e é directamente proporcional à vontade de amar. quanto maior for a nossa ansiedade, maior é a inércia que lhe diz respeito e maís difícil se torna de ultrapassar. é simples de entender, com um exemplo. quando existe alguém que não larga o nosso respirar, a nossa imaginação e constantemente invade os nossos sonhos, temos de nos obrigar a abrandar. se avançamos com toda a vontade do coração, atropelamos tudo e resta apenas um amontoado indiscernível de coisas pontiagudas no chão.
quando se gosta de alguém, tem de se dar a conhecer a essa pessoa. há que fazê-lo na dose certa e essa margem é extremamente pequena. se a quantidade usada for pouca, nunca pensará que é amor e, se a quantidade for excessiva, temerá tratar-se de obsessão. a verdade é que o motor de um amor queima sempre o mesmo combustível, o que difere é o quão bom somos a controlar o ruído que faz. deve ser suficiente para chamar atenção e plantar uma semente de intriga, não mais e não menos. isto é a inércia do amor, porque quanto maior for, mais difícil é de conter o ruído deste motor interno a que chamam coração.
é mundano fazer a corte a alguém, simultaneamente uma arte e uma ciência. há quem o faça bem, naturalmente como respirar e há quem nem saiba por onde começar. aquela margem que dita a dose certa de galanteios continuados é tão nítida para os primeiros, como uma fita negra sobre um fundo branco e tão baça para os segundos, como as ruas de uma cidade que nunca viram.
o mais cruel de tudo é ter de acorrentar o próprio coração e atirá-lo para a solitária, privar-lhe o sol e qualquer contacto humano. cinco minutos de liberdade por dia são o suficiente para manter a dosagem correcta. no fim, o que resta é esperar... esperar que o soltem para cometer os actos mais tresloucados de amor ou se esqueçam dele e o deixem para morrer.