sábado, 1 de dezembro de 2012

beber para esquecer

lembrei-me da apagar os feitiços da cabeça,
depois de beber à saúde da condessa.
bebo em solidão, este trago amargo
arranha-me as entranhas e não o largo.

um pouco mais forte, duplo se puder,
espero levantar-me e cair para morrer.
não há uma alma que escape à miséria
e a minha só é mais outra galdéria.

o meu braço, de beber, já cansa,
para cima e para baixo nesta dança
que ecoará por toda uma vida.
oh, sorte! não haverá outra saída?

visão turva, os contornos distantes...
porque não fomos mais cedo amantes?
o mundo é belo envolto em nevoeiro,
um navio naufragado apresenta-se inteiro.

tive esta alegria ao ver-te cheio,
um trago, dois e já vais tu a meio.
senta-te comigo, bebe-te e escreve
a voz deste homem que tanto deve.

por dever ao mundo, afogo a memória
que, um dia, provei da fama e glória.
as lágrimas valem-se num copo fundo,
esvazio-as dentro deste corpo imundo.

um último, por favor, para a viagem!
quem sabe se até lá chega a bagagem...
com o bilhete na mão e o destino traçado,
só falta mesmo cair para o lado.

a garrafa ajudou por mais um dia,
amanhã espera-me a mesma agonia.
eu bebo e bebo para esquecer
que esta vida tem o dom de doer.