quarta-feira, 30 de julho de 2014

no teu reino sem mim

na terra que eu escolhi não há rei,
serás tu soberana do lugar
onde espero um dia vir a descansar
às margens desse rio cruel e sem lei.

a noite cai, como se nada fosse,
tudo fica sereno na tua terra,
só no peito, de vez em quando, berra
a crua tempestade que a mágoa trouxe.

vai na terra de infindável vazio,
ocupar o lugar que era só meu
e abandonar-me num castelo frio.

já não me lembro do que aconteceu,
possuí o teu coração, mas perdi-o
p'ró amor que, sem mim, em ti faleceu.

terça-feira, 29 de julho de 2014

amar a tua imagem

serei eu capaz de amar uma ideia?
dar-me-ão tal liberdade constrangida?
para que nunca sejas tu feia,
terás que superar-te à própria vida!

vejo-te atravessar o instransponível —
paredes do tempo e do espaço —
como se fosse, algum dia, possível
derreter esse teu coração de aço!

és nada mais do que um véu,
suspenso em fios de ilusão
que a solidão prendeu ao céu
para que jamais toques o chão.

vou fugir e guardar o sonho,
que a realidade não o conspurque.
se o teu ar é enfadonho,
prefiro-te ter-te como estuque.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

auto-flagelação

escondo-me na solidão
que toda a gente vê,
à procura do perdão
que alguém me dê
pelo mal que eu não fiz,
mas admiti-o porque quis.

é fácil passar por mau
e nada ter que segurar —
só a cabeça num pau
por quem cansou de me ilibar
do crime que não cometi
e, por vontade própria, menti.

a minha auto-destruição inútil
é a entrada na má fama,
quando a boa é tão fútil
que, por ela, ninguém clama.
quando, por fim, sou descoberto,
das garras do mundo me liberto.

domingo, 27 de julho de 2014

a cidade fantasma

a cidade cresceu em três dias,
                e toda a gente foi feliz,
criaram-se muitas novas manias,
                antes que a vontade que o quis
tornasse, novamente, a ruas vazias.

fora os problemas do quotidiano,
                daqueles que a fortuna trouxe,
e procurei entre o são e o insano,
                uma ideia só que fosse
original na recta e no plano.

mas as ideias ficam lá distantes,
                das gentes que as carregam,
e eu pensei, ainda que por instantes,
                ouvir suas vozes que berram
essas novas ideias incessantes.

no último dia, tudo ruiu,
                foi-se embora toda a gente,
nenhum pensamento persistiu,
                porque andava tudo contente
à sombra da cidade que nunca existiu.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

amar-te é bom demais para mim

porque ter-te é o maior desejo,
assalto a tua mente sem saberes,
procuro — algures perdido — um beijo,
e largo um labirinto p'ra te perderes,
porque ter-te é o maior desejo.

foi tão bom ter-te nos braços,
acariciar a tua pele e cabelo,
decorar todos os teus traços,
tocar-te o coração sem sabê-lo,
foi tão bom ter-te nos braços.

é a parte de ti que mais adoro,
sincronizar o teu coração e o meu,
esperar o teu encontro — não demoro!
a última barreira, em ti, que cedeu
é a parte de ti que mais adoro.

amar-te é bom demais para mim,
o presente que mais bem guardaste
acorrentou-me neste amor sem fim,
no sorriso com que te apesentaste,
amar-te é bom demais para mim.

todas as noites

todas as noites olho o céu
com intrínseca curiosidade,
se a mão que ela me deu
foi por pena ou vaidade.

todas as noites a seu lado
são um inferno paradisíaco,
que me levam embalado
a um acidente cadíaco.

todas as noites de ausência
são cruéis testes à sanidade
e desmascaram a demência
que tento passar por saudade.

todas as noites a repudio
por não ma deixar amar,
com a força bruta de um rio
que só pensa em desaguar.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

castelo de areia

sozinha, tu inspiras o centro do meu coração
    e acendes o fogo da fornalha de que se alimenta,
        sem saberes que o fazes, sem sequer o quereres.
agora, sempre que enfrentar a solidão,
    sei que a força da tua mão na minha se aguenta
        com a magia em que ocultas os teus poderes.

por mais longe que estejas, ainda me agarras
    tão forte como a maré do bravo mar de inverno
        e delicado que nem sinto o apertar constrangedor.
quero ouvir todas as histórias que narras,
    pela voz do teu canto lírico, que é o mais terno
        que já ecoou pelas entranhas do meu interior.

um dia, já serei eu um bom navegador
    e convidar-te-ei a velejar comigo por mais além,
        onde nunca outro coração se atreveu a navegar.
por agora, terás que acreditar que é amor
    que impulsiona o meu barco a remos não tão bem,
        mas que me leva até ao lugar onde quero chegar.

nessa ilha deserta, onde mora mais ninguém
    construirei o castelo de areia que nos albergará
        e esperarei pelo dia em que me peças para subir.
se os anos passarem, nem mesmo aos cem
    eu desistirei de esperar o dia que te trará
        ao encosto dos meus braços para dormir.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

as 48 coisas que eu gosto em ti

gosto do teu cabelo,
gosto do teu sorriso,
das tuas mãos finas
e da tua falta de juízo.

gosto do teu cheiro,
gosto do teu nariz,
das tontices que dizes
e de te ver feliz.

gosto das tuas orelhas,
gosto dos teus dentes,
do teu coração honesto
e dos teus presentes.

gosto do teu queixo,
gosto da tua barriga,
da tua genuinidade
e de seres boa amiga.

gosto do teu toque,
gosto do teu cozinhar,
da tua pele sedosa
e do cabelo por lavar.

gosto dos teus olhos,
gosto das tuas insanidades,
dos teus traços requintados
e de morrer de saudades.

gosto dos teus sapatos,
gosto das tuas blusas,
da falta de maquilhagem
e das cores que usas.

gosto do teu caminhar,
gosto dos teus lábios,
do teu sabor a chiclete
e dos conselhos sábios.

gosto da tua ternura,
gosto da tua frieza,
da falta de paciência
e do teu ar de princesa.

gosto do teu charme,
gosto da tua inteligência,
do teu lado misterioso
e da tua sonolência.

gosto da tua presença,
gosto da tua voz,
do teu ar de mimo
e de estarmos sós.

gosto do teu calor,
gosto do teu desejo,
do teu mau humor
e de te pedir um beijo.