segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

o amor é terminal

olhos meus tanto carregam oceanos,
lábios meus tanto escondem cicatrizes,
já não escuto as palavras que dizes
e já pouco me sinto entre os humanos.

eu só amo ao expoente da loucura —
só na insanidade é sensato amar —
perdi o rumo da página a virar,
não sei que fazer com esta amargura.

amar é não ser feliz... é sofrer
como quem morre à espera da morte,
como quem nada mais tem a temer.

se o bater no peito fosse mais forte,
dilacerá-lo-ia só p'ra te ver,
cravando a memória funda no corte.

sábado, 3 de janeiro de 2015

quando o amor te governa

são palavras de uma boca não tua,
são movimentos que não te pertencem,
acções que, vindas de ti, não se entendem,
como quem dança sozinha na rua.

fazem-se de ti boneca de engonços,
já não tens gestos teus p'ra governar,
nem te resta a vontade p'ra pensar
nos sentimentos que aí tens esconsos.

nem o amor a ele sabe governar...
quem há... quem há que virá governar-te,
se é o coração quem não se quer dar?

num suspiro divino, ganho a arte
que — de quem nada mais tem p'ra falar —
tudo diz nesse gesto que é amar-te...

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

inverno

o sol deita-se
às quatro da tarde,
                            porque é inverno.

a lua reina
e a fogueira arde,
                            porque é inverno.

os ossos gelam,
o coração pára,
                            porque é inverno.

a lágrima cai
no canto da cara,
                            porque é inverno.

o passo branda
e o silêncio canta,
                            porque é inverno.

sentado à varanda,
a paz é tanta,
                            porque é inverno.

o vento impede
o meu avançar,
                            porque é inverno.

o meu amor
não há-de cessar,
                            porque é inverno.