domingo, 15 de janeiro de 2012

remoinho de vento

                      ouvi eu cá
            dizer, que
            os remoinhos
    são feitos
de vento.
eu vi um
    a correr
            sem medo
            e vi um
                  a dançar
                         com folhas.
                      no verão,
                eles vão
                  para o mar
              (onde está
            fresquinho,
        penso eu).
          que fantástico
      que é, saber
    tanto sobre
  o vento.
            mas o vento
            disse-me,
                  um dia, que
                        os remoinhos
                      não são feitos
            de vento.
                e eu perguntei
          "então, o que
  são?" e ele
    respondeu que
"os remoinhos
  são coisas da
        água" e que eu
      não estava
        "a pensar
                em vento."
                        pedi perdão,
                  pela minha
              insolência,
          por pensar
        que podiam
      haver por aí
remoinhos
feitos de
vento.

hoje sinto-me sem mim

há por aí gente a deambular que não tem nada de mim. e eu, que tanto tenho de mim, procuro-me incessantemente por toda a parte. nunca me encontro e acabo como mais um desses tristes transeuntes a vaguear por aí, sem nada de mim.

sábado, 14 de janeiro de 2012

afamado

quem de vós tendes a ousadia de dizer
que sou menos do que aquilo que sou?
eu sou eu desde que tenho memória!
tudo são meras histórias para adormecer,
cantigas de quem muito me invejou
e nunca teve uma só vitória!

quem de vós sonha com o passado
e deseja que tudo fosse como dantes?
eu faço-o a cada momento presente!
daquilo que sou verdadeiramente culpado,
antes de sermos propriamente amantes,
foi ter sido demais eloquente!

quem de vós tem um desejo carnal
ou uma fantasia particularmente obscura?
eu ocupo-me com nada mais do que isso!
o que nos rodeia é definitivamente fatal,
um chamamento à morte prematura,
um insorriso - eterno e omisso!

quem de vós é arguido por inocência
cuja cobardia para o crime é palpável?
eu não sou desses e jamais o serei!
o desejo é limitado pela indecência,
a fantasia constrangida pelo imaginável
e a realidade condenada por lei!

quem de vós jamais um dia chorou
desde que vos separaram de vossa mãe?
eu admito-o, mas por puro engano!
em nada de nada melhorou
ter derramado o sangue de alguém
por ser completamente insano!

quem de vós foi que me perseguiu
e escutou até ao som do silêncio?
eu parei de falar - assustado!
o rosto oculto que nunca sorriu
chegou-se a mim tal abrenúncio,
acusando-me de ser afamado!