domingo, 25 de fevereiro de 2018

proíbido

não posso autorizar o nosso amor,
se, de facto, tu me queres amar,
quando eu estou louco por te amar,
cozem-se-me as entranhas a vapor.

não olhes! corre! foge desgraçado,
antes que a vontade c'oa tua se una
e deixes de saber o que é fortuna,
porque estás novamente enfeitiçado.

quando não sou livre de amar quem quero,
não sou livre sequer p'ra respirar
esse aroma de ti que me é austero.

para o coração não me esquartejar,
um amor mais enfadado eu espero,
porque a força do teu vai-me matar.

sábado, 24 de fevereiro de 2018

cocaína

tenho cocaína nas veias,
é a dose que chega ao fim,
é a fornalha que incendeias
quando passas por mim.

tenho a ruína do castelo,
que montámos em criança,
que apelidámos de belo
antes de perder a esperança.

tenho notícias do fundo
do saco que bate no peito
do homem a gritar ao mundo
que nada corre do seu jeito.

tenho sono imenso p'ra dormir
na cama que é grande demais,
na rua onde se fazem ouvir
os doces uivos dos chacais.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

antes de haver luar

antes de haver luar,
qualquer tipo de luz,
no fundo desse olhar
que a nada me reduz.

antes de haver beleza,
todo e qualquer apelo,
eras tu sobre a mesa
e em mim o teu cabelo.

antes de haver morte
ou resquícios de vida,
era já homem de sorte
d'amor sem medida.

antes de haver amor
ou qualquer outra dor,
faltava também a cor,
o sorriso ou o que for!