quem de vós tendes a ousadia de dizer
que sou menos do que aquilo que sou?
eu sou eu desde que tenho memória!
tudo são meras histórias para adormecer,
cantigas de quem muito me invejou
e nunca teve uma só vitória!
quem de vós sonha com o passado
e deseja que tudo fosse como dantes?
eu faço-o a cada momento presente!
daquilo que sou verdadeiramente culpado,
antes de sermos propriamente amantes,
foi ter sido demais eloquente!
quem de vós tem um desejo carnal
ou uma fantasia particularmente obscura?
eu ocupo-me com nada mais do que isso!
o que nos rodeia é definitivamente fatal,
um chamamento à morte prematura,
um insorriso - eterno e omisso!
quem de vós é arguido por inocência
cuja cobardia para o crime é palpável?
eu não sou desses e jamais o serei!
o desejo é limitado pela indecência,
a fantasia constrangida pelo imaginável
e a realidade condenada por lei!
quem de vós jamais um dia chorou
desde que vos separaram de vossa mãe?
eu admito-o, mas por puro engano!
em nada de nada melhorou
ter derramado o sangue de alguém
por ser completamente insano!
quem de vós foi que me perseguiu
e escutou até ao som do silêncio?
eu parei de falar - assustado!
o rosto oculto que nunca sorriu
chegou-se a mim tal abrenúncio,
acusando-me de ser afamado!