é manhã
faz um ângulo agudo no céu, o sol
pela janela penetra
toca o despertador
não oiço
os braços estão dormentes
nada sinto
apenas uma carícia
ténue, quase imperceptível
alguém chegou
'olá', disse
não respondi
voltei a cara, tentei cair no sono
'está na hora', continuou
os lençóis fogem-me
'preguiçoso', e riu-se
'que fazes tu aqui?', perguntei tremido
'estou aqui para ti, só para ti', retorquiu
enfrentei-lhe o olhar, perdi-me
naquele momento, perfurou-me a alma
na verdade, soube bem
alimentou-me o desejo
saciou-me a sede
acalmou-me o medo
retirou-me a mágoa
afagou-me gentilmente, como ninguém antes
que voz meiga
suaves mãos de seda
negros, corrosivos olhos
o abraço é frio, mas não apetece largar
perguntei se estava certa
'sim, és tu', confirmou
no entanto, soube bem
perguntou o meu inimigo
disse o homem
perguntou o meu amigo
disse o silêncio do vácuo
perguntou o meu medo
disse o teatro
perguntou o meu arrependimento
disse o sorriso em demasia
perguntou o meu desejo
disse não ter mais que rir
não forçadamente
não para as pessoas que passam
não mais fingir simpatia
lei que ninguém atreve infringir
é atirado às bocas do mundo
perguntou porquê
disse que para ser amado
há que comprazer, a todo o momento
disse que para ser odiado
é bem mais simples, apenas nada
'a mim terás, eternamente', tentou-me
afugentei-a e mais forte foi o seu abraço
gélido ao coração
e parou
corte
'toda eu sou tua', apaziguou-me
mas eu exclamei 'o teu nome, qual é?'
deliciosamente respondeu, 'morte'.
sexta-feira, 30 de abril de 2010
quinta-feira, 29 de abril de 2010
besta
estou pasmado c'o egoísmo do mundo,
farto de espasmos mentais p'ra sorrir,
ter que enterrar esta merda mais fundo,
sem refúgio, santuário p'ra fugir.
verdadeiros, honestos, falsos, bestas,
profetizam o neo-egocentrismo,
bebem a podridão da mãe p'las tetas
e facilmente te atiram p'lo abismo.
trago a língua suja, o corpo escarrado,
mas tu, uma cova no cerne do peito —
esquisso de pérfido coração.
todo o que ousaste ter descarnado,
vives agora a mendigar respeito —
és a porcaria, um sarnento cão!
farto de espasmos mentais p'ra sorrir,
ter que enterrar esta merda mais fundo,
sem refúgio, santuário p'ra fugir.
verdadeiros, honestos, falsos, bestas,
profetizam o neo-egocentrismo,
bebem a podridão da mãe p'las tetas
e facilmente te atiram p'lo abismo.
trago a língua suja, o corpo escarrado,
mas tu, uma cova no cerne do peito —
esquisso de pérfido coração.
todo o que ousaste ter descarnado,
vives agora a mendigar respeito —
és a porcaria, um sarnento cão!
quarta-feira, 28 de abril de 2010
o que farias?
se eu te desse um olá,
aceitavas?
se eu te chamasse bonita,
coravas?
se eu te perguntasse o nome (apesar de já o saber),
contavas-me?
se eu te desse o meu,
guardavas?
se eu te oferecesse um côco,
bebíamos juntos?
se eu te comprasse um bolo de creme,
sujavas-me o nariz?
se eu te encontrasse aguarelas,
pintavas-me uma tarde?
se eu começasse em lá menor,
construías uma escada até ao céu?
se eu fizesse cócegas,
rias-te?
se eu te comparasse a uma estrela,
achavas absurdo?
se eu fizesse mal-me-quer,
calharia bem?
se eu tivesse um quantos-queres,
escolhias o certo?
se eu do nada me declarasse,
sofrias taquicardia?
se eu te dedicasse um cisne de papel,
a tua resposta era sim?
se eu te achasse perfeita,
corrigias-me?
se eu te levasse a um filme de terror,
agarravas-me?
se eu quisesse verdade ou consequência,
perdias de propósito?
se eu te pisasse a dançar,
beliscavas-me o rabo?
se eu te presenteasse um búzio,
ouvias o mar?
se eu te fizesse uma serenata desafinada,
fingias gostar?
se eu aparecesse na tua janela à noite,
chamavas-me louco?
se eu brincasse ao quarto escuro,
decoravas o meu lugar?
se eu contasse até cem,
deixavas-te encontrar?
se eu te levasse a passear à lua,
davas-me a mão?
se eu te pegasse a mão,
fugias comigo?
se eu te levasse no meu carro,
adormecias?
se eu construísse uma cabana em marte,
fazias o jantar?
se eu estivesse bem perto de ti,
ouvia-te respirar?
se eu não conseguisse dormir,
cantavas para mim?
se eu sofresse por ti,
achavas-me idiota?
se eu fosse o guido orefice,
eras a dora?
se eu te procurasse no escuro,
ias ao meu encontro?
se eu te roubasse uma rosa,
eras cúmplice?
se eu te fizesse chorar,
perdoavas-me?
se eu estivesse doente,
ficavas aqui?
se chovesse lá fora,
ficávamos aninhados?
se eu te oferecesse um favo de mel,
lambuzavas-te?
se eu te desejasse perdidamente,
achavas impossível?
se eu chamasse por ti do outro lado do mundo,
ouvias-me?
se eu olhasse nos teus olhos,
espreitavas os meus?
se eu te agarrasse pela cintura,
abraçavas-me pelo pescoço?
se eu te mordesse a bochecha,
irritavas-te?
se eu te beijasse os lábios,
fechavas os olhos?
mas e se eu apenas sonhasse contigo,
suspeitavas?
aceitavas?
se eu te chamasse bonita,
coravas?
se eu te perguntasse o nome (apesar de já o saber),
contavas-me?
se eu te desse o meu,
guardavas?
se eu te oferecesse um côco,
bebíamos juntos?
se eu te comprasse um bolo de creme,
sujavas-me o nariz?
se eu te encontrasse aguarelas,
pintavas-me uma tarde?
se eu começasse em lá menor,
construías uma escada até ao céu?
se eu fizesse cócegas,
rias-te?
se eu te comparasse a uma estrela,
achavas absurdo?
se eu fizesse mal-me-quer,
calharia bem?
se eu tivesse um quantos-queres,
escolhias o certo?
se eu do nada me declarasse,
sofrias taquicardia?
se eu te dedicasse um cisne de papel,
a tua resposta era sim?
se eu te achasse perfeita,
corrigias-me?
se eu te levasse a um filme de terror,
agarravas-me?
se eu quisesse verdade ou consequência,
perdias de propósito?
se eu te pisasse a dançar,
beliscavas-me o rabo?
se eu te presenteasse um búzio,
ouvias o mar?
se eu te fizesse uma serenata desafinada,
fingias gostar?
se eu aparecesse na tua janela à noite,
chamavas-me louco?
se eu brincasse ao quarto escuro,
decoravas o meu lugar?
se eu contasse até cem,
deixavas-te encontrar?
se eu te levasse a passear à lua,
davas-me a mão?
se eu te pegasse a mão,
fugias comigo?
se eu te levasse no meu carro,
adormecias?
se eu construísse uma cabana em marte,
fazias o jantar?
se eu estivesse bem perto de ti,
ouvia-te respirar?
se eu não conseguisse dormir,
cantavas para mim?
se eu sofresse por ti,
achavas-me idiota?
se eu fosse o guido orefice,
eras a dora?
se eu te procurasse no escuro,
ias ao meu encontro?
se eu te roubasse uma rosa,
eras cúmplice?
se eu te fizesse chorar,
perdoavas-me?
se eu estivesse doente,
ficavas aqui?
se chovesse lá fora,
ficávamos aninhados?
se eu te oferecesse um favo de mel,
lambuzavas-te?
se eu te desejasse perdidamente,
achavas impossível?
se eu chamasse por ti do outro lado do mundo,
ouvias-me?
se eu olhasse nos teus olhos,
espreitavas os meus?
se eu te agarrasse pela cintura,
abraçavas-me pelo pescoço?
se eu te mordesse a bochecha,
irritavas-te?
se eu te beijasse os lábios,
fechavas os olhos?
mas e se eu apenas sonhasse contigo,
suspeitavas?
esquisso de
poema livre
terça-feira, 27 de abril de 2010
o poeta
sou poeta?
lá poeta sou eu!
o grande escritor, maior que a terra já viu!
mas não!
não te iludas mais, pois mentiroso não sou.
jamais serei!
sou copiador! transcritor!
sou um pobre literato que sabe imitar!
grandes românticos são os antigos, eu não.
então, de uma vez por todas,
o que sou?
sou o leitor assíduo deste coração cravado no meu peito,
recordo as palavras mudas que grita tão desesperadamente.
oh, mas que poeta desamparado!
os versos são tantos e o papel é escasso!
“poesia é bela e emocionante, espelho de sentimentos.
serão as quadras apenas conjugações (ir)racionais?
será, de todo, árduo reunir um conjunto de momentos?
responder seria fútil, inútil até, e digo nada mais.”
poetas? have-los-ão.
com rimas mágicas de aparição absurda.
outros, porém, nada to dirão!
mas eu, eu tudo te direi!
de peito erguido,
aos céus berrarei!
lá poeta sou eu!
o grande escritor, maior que a terra já viu!
mas não!
não te iludas mais, pois mentiroso não sou.
jamais serei!
sou copiador! transcritor!
sou um pobre literato que sabe imitar!
grandes românticos são os antigos, eu não.
então, de uma vez por todas,
o que sou?
sou o leitor assíduo deste coração cravado no meu peito,
recordo as palavras mudas que grita tão desesperadamente.
oh, mas que poeta desamparado!
os versos são tantos e o papel é escasso!
“poesia é bela e emocionante, espelho de sentimentos.
serão as quadras apenas conjugações (ir)racionais?
será, de todo, árduo reunir um conjunto de momentos?
responder seria fútil, inútil até, e digo nada mais.”
poetas? have-los-ão.
com rimas mágicas de aparição absurda.
outros, porém, nada to dirão!
mas eu, eu tudo te direi!
de peito erguido,
aos céus berrarei!
esquisso de
poema livre
segunda-feira, 26 de abril de 2010
quem diz que ama
senhores! quem diz que ama, não se engana.
o amor que cega, que arrasta e maltrata,
que causa prazer e dor que não farta
é de pura natureza humana.
o amor é ardor, vive do coração,
p'ra lhe libertar o fogo inconsciente,
louco sentimento este, persistente,
nos instiga à renúncia da razão.
sem vestígio de amor não há tristeza,
mas p'ra quê viver num mundo sem dor
e apático ao sentir prestigioso?
não quero imaginar maior pobreza:
correr o mundo, olhando em redor,
procurando o teu beijo caloroso.
o amor que cega, que arrasta e maltrata,
que causa prazer e dor que não farta
é de pura natureza humana.
o amor é ardor, vive do coração,
p'ra lhe libertar o fogo inconsciente,
louco sentimento este, persistente,
nos instiga à renúncia da razão.
sem vestígio de amor não há tristeza,
mas p'ra quê viver num mundo sem dor
e apático ao sentir prestigioso?
não quero imaginar maior pobreza:
correr o mundo, olhando em redor,
procurando o teu beijo caloroso.
domingo, 25 de abril de 2010
o diário
entrei eu por esse teu mundo fora
perdido em arbustos de inocência
só para me encontrares em boa hora
e me encheres de feroz incandescência.
vi-me tanto tempo arder sem susto
do fogo que negligenciavelmente ateaste
e foi com muito suor e muito custo
que daquela sombra te livraste.
tinha já o bom quente feito as malas
esperávamos nós a visita das lágrimas
nada era relevante, nem mesmo as falas
ou as dores dos primeiros sintomas.
terá sido algum dos meus olhares
um gesto, uma reacção, uma palavra
espreitavas por detrás das flores
uma apenas e já não havia outra.
que mistérios escondia aquele mundo
perguntaram-se os quatro e nenhum sabia
no escuro tomaram a posse do fundo
mas era só aquele descruzar que eu via.
a seu tempo as lágrimas desvaneceram
via-se nascer da lama tanta alma pura
os medos que num sorriso desapareceram
não foram mais que sol de pouca dura.
na calma de um dia de sol intenso
sinais como frio, vento e chuva
não podiam ser ignorados pelo senso
que acabaria por só trazer amargura.
viveu-se um período de amor frio
a tensão dum lado à procura do outro
ódio não mais que o coração retido
à procura do carinho e do conforto.
tempos confusos, desafios estranhos
palavras esquecidas expostas na testa
de novo surgia uma trovoada de empenhos
camuflada esta que não tinha pressa.
um ciúme reprimido pela vontade
momentos feitos apenas para a memória
finalmente num êxtase de verdade
permanece assim contada a nossa história.
estava na hora do chá e tudo aconteceu
uma pausa merecida na escrita do conto
procurará noite e dia encontrar a fúria
insaciável que um dia foi de provar.
perdido em arbustos de inocência
só para me encontrares em boa hora
e me encheres de feroz incandescência.
vi-me tanto tempo arder sem susto
do fogo que negligenciavelmente ateaste
e foi com muito suor e muito custo
que daquela sombra te livraste.
tinha já o bom quente feito as malas
esperávamos nós a visita das lágrimas
nada era relevante, nem mesmo as falas
ou as dores dos primeiros sintomas.
terá sido algum dos meus olhares
um gesto, uma reacção, uma palavra
espreitavas por detrás das flores
uma apenas e já não havia outra.
que mistérios escondia aquele mundo
perguntaram-se os quatro e nenhum sabia
no escuro tomaram a posse do fundo
mas era só aquele descruzar que eu via.
a seu tempo as lágrimas desvaneceram
via-se nascer da lama tanta alma pura
os medos que num sorriso desapareceram
não foram mais que sol de pouca dura.
na calma de um dia de sol intenso
sinais como frio, vento e chuva
não podiam ser ignorados pelo senso
que acabaria por só trazer amargura.
viveu-se um período de amor frio
a tensão dum lado à procura do outro
ódio não mais que o coração retido
à procura do carinho e do conforto.
tempos confusos, desafios estranhos
palavras esquecidas expostas na testa
de novo surgia uma trovoada de empenhos
camuflada esta que não tinha pressa.
um ciúme reprimido pela vontade
momentos feitos apenas para a memória
finalmente num êxtase de verdade
permanece assim contada a nossa história.
estava na hora do chá e tudo aconteceu
uma pausa merecida na escrita do conto
procurará noite e dia encontrar a fúria
insaciável que um dia foi de provar.
esquisso de
poema rítmico
sábado, 24 de abril de 2010
l'amour fou
amour fou,
assim apelidaram os franceses a louca paixão.
mas que sabem eles?
amour fou... mais me parece foolish,
como se diz na língua inglesa.
sim, sem dúvida, parece-me mais adequado.
acho que apenas um louco,
um louco, demente, insensato, alienado, doido!
só alguém que perdeu todo o sentido da razão pode,
na sua demência,
desejar apaixonar-se.
todo e qualquer ser possuidor de uma réstia de sanidade sabe,
e sabe-o bem!
como qualquer presa que se deve afastar do seu predador,
a gazela do leão.
um leão bem esfomeado.
e como se já não bastasse,
trás consigo companhia,
não vem sozinho, não.
o lambão arrasta uma fêmea capaz!
se viesse sozinho, aparecesse, esfomeado,
sim, quem sabe, nem precisava ser muito doido,
atirava-me às suas garras.
mas não, nem pensar.
aquela vil mulher, faz ela todo o trabalho sujo e,
no final, contenta-se com a carcaça.
e o rei? esse empanturra-se na nossa morte.
ah! paixão!
assim apelidaram os franceses a louca paixão.
mas que sabem eles?
amour fou... mais me parece foolish,
como se diz na língua inglesa.
sim, sem dúvida, parece-me mais adequado.
acho que apenas um louco,
um louco, demente, insensato, alienado, doido!
só alguém que perdeu todo o sentido da razão pode,
na sua demência,
desejar apaixonar-se.
todo e qualquer ser possuidor de uma réstia de sanidade sabe,
e sabe-o bem!
como qualquer presa que se deve afastar do seu predador,
a gazela do leão.
um leão bem esfomeado.
e como se já não bastasse,
trás consigo companhia,
não vem sozinho, não.
o lambão arrasta uma fêmea capaz!
se viesse sozinho, aparecesse, esfomeado,
sim, quem sabe, nem precisava ser muito doido,
atirava-me às suas garras.
mas não, nem pensar.
aquela vil mulher, faz ela todo o trabalho sujo e,
no final, contenta-se com a carcaça.
e o rei? esse empanturra-se na nossa morte.
ah! paixão!
esquisso de
poema livre
sexta-feira, 23 de abril de 2010
a noite perfeita
imagino a noite perfeita
desde o teu primeiro olhar,
imagino uma cama feita
à espera de se desmanchar.
era bom que chovesse lá fora
enquanto a noite nos abraça,
era bom que acontecesse agora
porque o tempo, esse escassa.
ficamos tão bem assim juntos
naquele teu quarto no porto,
sentimos todos os segundos
a desenhar o nosso conforto.
vou querer descobrir o teu corpo,
vaguear, passear, sentir a tua forma,
vou permitir que governes no topo
do teu reino que em mim se afirma.
se nada disto é teu desejo,
faz-te muda e nada digas,
nem sequer um leve bocejo,
uma omissão ou as tuas cantigas.
mas se a frequência do teu coração
ressoa em fase com a do meu,
não te atrevas a dizer-me que não,
que a veleidade se desvaneceu.
já te chamei de rainha,
junto agora a dicção,
a tua cama já é minha,
e tu? responde então.
ou não, deixa-me ponderar,
mantém essa tua nota musical.
sim, deixa-me por aqui a sonhar,
nada retribuas ou leves a mal.
guardo-te na mais alta consideração
enquanto monto esta noite perfeita,
enquanto espero que pela tua mão
me guies, carregues a vida inteira.
a minha noite perfeita é beijar-te,
fazer amor contigo uma e outra vez,
passar as horas em claro a abraçar-te
até partires para a faculdade às dez.
desde o teu primeiro olhar,
imagino uma cama feita
à espera de se desmanchar.
era bom que chovesse lá fora
enquanto a noite nos abraça,
era bom que acontecesse agora
porque o tempo, esse escassa.
ficamos tão bem assim juntos
naquele teu quarto no porto,
sentimos todos os segundos
a desenhar o nosso conforto.
vou querer descobrir o teu corpo,
vaguear, passear, sentir a tua forma,
vou permitir que governes no topo
do teu reino que em mim se afirma.
se nada disto é teu desejo,
faz-te muda e nada digas,
nem sequer um leve bocejo,
uma omissão ou as tuas cantigas.
mas se a frequência do teu coração
ressoa em fase com a do meu,
não te atrevas a dizer-me que não,
que a veleidade se desvaneceu.
já te chamei de rainha,
junto agora a dicção,
a tua cama já é minha,
e tu? responde então.
ou não, deixa-me ponderar,
mantém essa tua nota musical.
sim, deixa-me por aqui a sonhar,
nada retribuas ou leves a mal.
guardo-te na mais alta consideração
enquanto monto esta noite perfeita,
enquanto espero que pela tua mão
me guies, carregues a vida inteira.
a minha noite perfeita é beijar-te,
fazer amor contigo uma e outra vez,
passar as horas em claro a abraçar-te
até partires para a faculdade às dez.
esquisso de
poema rítmico
quinta-feira, 22 de abril de 2010
uma conversa num segundo
se parares para pensar, um segundo.
um segundo apenas, este segundo, imagina.
eu penso contigo, imagino também.
é nosso, sabes?
este segundo.
não, a sério que é. este é o nosso segundo.
porque, neste segundo, eu penso em ti.
sim, e tu, eu bem sei, também pensas em mim.
nem que apenas neste nosso segundo.
não, não te preocupes, há muitos e muitos segundos.
sim, é verdade, um para cada pessoa na terra.
um para cada estrela no céu também.
eu só quis reservar este para nós.
não sei bem, pareceu-me especial.
se calhar foram os teus olhos.
amanhã tenho que estudar.
não me apetece.
quero ficar aqui.
sim, aqui.
não neste lugar, mas neste segundo. o nosso segundo.
porque é bom, é mesmo bom.
porque sabe bem, sabe mesmo bem.
porque é nosso, de mais ninguém.
amanhã, o estudo é só meu.
se apenas fosse como este segundo...
decorava todos os livros do mundo!
mas, eu admito, sou preguiçoso.
está bem, eu prometo.
agora deixa-me ficar neste segundo.
só mais um segundo neste segundo.
(depois outro e outro e outro e outro e outro e outro...)
amanhã eu estudo, mas agora, agora este segundo.
um segundo apenas, este segundo, imagina.
eu penso contigo, imagino também.
é nosso, sabes?
este segundo.
não, a sério que é. este é o nosso segundo.
porque, neste segundo, eu penso em ti.
sim, e tu, eu bem sei, também pensas em mim.
nem que apenas neste nosso segundo.
não, não te preocupes, há muitos e muitos segundos.
sim, é verdade, um para cada pessoa na terra.
um para cada estrela no céu também.
eu só quis reservar este para nós.
não sei bem, pareceu-me especial.
se calhar foram os teus olhos.
amanhã tenho que estudar.
não me apetece.
quero ficar aqui.
sim, aqui.
não neste lugar, mas neste segundo. o nosso segundo.
porque é bom, é mesmo bom.
porque sabe bem, sabe mesmo bem.
porque é nosso, de mais ninguém.
amanhã, o estudo é só meu.
se apenas fosse como este segundo...
decorava todos os livros do mundo!
mas, eu admito, sou preguiçoso.
está bem, eu prometo.
agora deixa-me ficar neste segundo.
só mais um segundo neste segundo.
(depois outro e outro e outro e outro e outro e outro...)
amanhã eu estudo, mas agora, agora este segundo.
esquisso de
poema livre
quarta-feira, 21 de abril de 2010
os atalhos
a vida é um caminho unidireccional pavimentado de desilusão.
desilusão, dissabor, amargura, ansiedade, inquietude, angústia.
a vida não é perfeita.
a vida não é cega, surda e muda.
a vida não é um regime totalitário.
a vida é decepção e tristeza sem fronteiras.
a auto-estrada que entramos no dia zero da nossa vida,
aquela cujo destino não é trabalho ou prazer,
é dever.
um buraco na estrada,
a falha no pavimento,
a certeza de que a vida não é perfeita,
é um desvio à direita.
enquanto se remenda o nosso rumo,
inesperado,
a caixa de velocidades não admite o sentido inverso.
não há escolha,
resta a aventura.
são estes atalhos,
estes desvios repentinos,
a guinada no volante,
são as falhas na melancolia da existência,
estes trilhos de terra batida,
que nos levam o sentido de orientação.
(que bom que sabe,
perder de vista a via da infelicidade,
nem que,
por um breve instante,
e que se derrete na boca.)
sim,
foi a estes atalhos,
atalhos, desvios e acessos condicionados,
foi a eles quem aprendemos a chamar:
memórias.
boas memórias.
lembranças que nos esboçam um leve sorriso,
mesmo em perfeita solidão.
no fim,
são o último foco de luz,
o único farol,
na nossa efémera escuridão.
desilusão, dissabor, amargura, ansiedade, inquietude, angústia.
a vida não é perfeita.
a vida não é cega, surda e muda.
a vida não é um regime totalitário.
a vida é decepção e tristeza sem fronteiras.
a auto-estrada que entramos no dia zero da nossa vida,
aquela cujo destino não é trabalho ou prazer,
é dever.
um buraco na estrada,
a falha no pavimento,
a certeza de que a vida não é perfeita,
é um desvio à direita.
enquanto se remenda o nosso rumo,
inesperado,
a caixa de velocidades não admite o sentido inverso.
não há escolha,
resta a aventura.
são estes atalhos,
estes desvios repentinos,
a guinada no volante,
são as falhas na melancolia da existência,
estes trilhos de terra batida,
que nos levam o sentido de orientação.
(que bom que sabe,
perder de vista a via da infelicidade,
nem que,
por um breve instante,
e que se derrete na boca.)
sim,
foi a estes atalhos,
atalhos, desvios e acessos condicionados,
foi a eles quem aprendemos a chamar:
memórias.
boas memórias.
lembranças que nos esboçam um leve sorriso,
mesmo em perfeita solidão.
no fim,
são o último foco de luz,
o único farol,
na nossa efémera escuridão.
esquisso de
poema livre
terça-feira, 20 de abril de 2010
que me vale seja o que for?
que me vale uma cama,
se não tenho sono?
que me vale o conforto,
se tudo é incómodo?
que me vale o dinheiro,
se não me cobre os caprichos?
que me vale a inteligência,
se ajo como idiota?
que me vale a aparência,
se há alguém melhor?
que me vale a água,
se o interior é imundo?
que me vale a loiça,
se não há alimento?
que me vale o carro,
se o pavimento é de terra?
que me vale um país,
se sou um estrangeiro?
que me vale um tecto,
se não me sinto em casa?
que me vale uma amigo,
se eu gosto é da solidão?
que me vale o sol,
se não me ilumina o dia?
que me vale a música,
se as notas são mudas?
que me vale a voz,
se não posso gritar?
que me vale a vida,
se eu nunca a quis?
que me vale este coração,
se está vazio?
se não tenho sono?
que me vale o conforto,
se tudo é incómodo?
que me vale o dinheiro,
se não me cobre os caprichos?
que me vale a inteligência,
se ajo como idiota?
que me vale a aparência,
se há alguém melhor?
que me vale a água,
se o interior é imundo?
que me vale a loiça,
se não há alimento?
que me vale o carro,
se o pavimento é de terra?
que me vale um país,
se sou um estrangeiro?
que me vale um tecto,
se não me sinto em casa?
que me vale uma amigo,
se eu gosto é da solidão?
que me vale o sol,
se não me ilumina o dia?
que me vale a música,
se as notas são mudas?
que me vale a voz,
se não posso gritar?
que me vale a vida,
se eu nunca a quis?
que me vale este coração,
se está vazio?
esquisso de
poema livre
segunda-feira, 19 de abril de 2010
como o universo é engraçado
o universo é mesmo engraçado,
ali observa, quietinho e parado.
já mede palmo e meio e diz-se contente,
só porque fez um planeta,
um planeta onde vive gente.
é uma pequena bola de sabão,
que cabe na minha e na tua mão.
vagueia por aí, nesse dito multiverso,
mais uma e outra bola de arremesso.
sozinho, sozinho, sozinho?
sozinho e talvez não.
aposto que o malvado tem companhia
e finge solidão,
finge solidão só para ter a nossa mão.
a nossa mão e o coração!
maldito, maldito, maldito!
maldito sejas universo sem razão!
sem porquê de ser, sem porquê de existir,
sem saber onde não foi e onde não vai
ou o caminho a fugir.
ah, tempo! só tu para gostares do universo.
sim, só tu e eu não.
antes de ti, ele era nada.
antes dele, tu nada eras.
ah, tempo! só tu para me encheres,
só tu para me encheres o dia de tempo.
tempo que não quero e não pedi,
tempo que quis dar ao universo e não consegui.
diz-me, tempo, quando vais tu parar?
quando vais tu parar e andar para trás?
quero saber,
saber o que é morrer antes de nascer.
e tu, universo que te ris para mim,
também tu irás nascer e desaparecer,
quando o tempo se decidir retroceder.
o universo é mesmo engraçado,
nunca chega a horas,
está sempre atrasado.
sempre atrasado,
a divertir-se com o amigo tempo.
o universo até é bonito,
tem olhos de azul,
caracóis de ouro.
universo infinito,
sem norte ou sul,
todo tu e um estoiro.
ali observa, quietinho e parado.
já mede palmo e meio e diz-se contente,
só porque fez um planeta,
um planeta onde vive gente.
é uma pequena bola de sabão,
que cabe na minha e na tua mão.
vagueia por aí, nesse dito multiverso,
mais uma e outra bola de arremesso.
sozinho, sozinho, sozinho?
sozinho e talvez não.
aposto que o malvado tem companhia
e finge solidão,
finge solidão só para ter a nossa mão.
a nossa mão e o coração!
maldito, maldito, maldito!
maldito sejas universo sem razão!
sem porquê de ser, sem porquê de existir,
sem saber onde não foi e onde não vai
ou o caminho a fugir.
ah, tempo! só tu para gostares do universo.
sim, só tu e eu não.
antes de ti, ele era nada.
antes dele, tu nada eras.
ah, tempo! só tu para me encheres,
só tu para me encheres o dia de tempo.
tempo que não quero e não pedi,
tempo que quis dar ao universo e não consegui.
diz-me, tempo, quando vais tu parar?
quando vais tu parar e andar para trás?
quero saber,
saber o que é morrer antes de nascer.
e tu, universo que te ris para mim,
também tu irás nascer e desaparecer,
quando o tempo se decidir retroceder.
o universo é mesmo engraçado,
nunca chega a horas,
está sempre atrasado.
sempre atrasado,
a divertir-se com o amigo tempo.
o universo até é bonito,
tem olhos de azul,
caracóis de ouro.
universo infinito,
sem norte ou sul,
todo tu e um estoiro.
esquisso de
poema livre
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