terça-feira, 31 de agosto de 2010

ensaio sobre as fronteiras do homem

vagueia-me no pensamento a tentadora ideia de um país que não é país, seja uma terra de perfeita liberdade. o nosso redondo globo encontra-se totalmente cartografado e as terras habitáveis pelo homo sapiens estão dividias e distribuídas por republicas, reinos, principados, ditaduras, democracias, estados, a lista continua. o pouco que resta livre encontra-se espalhado pela terra de marie byrd (antárctica), o maior território não reclamado por alguma nação no planeta.
para aqueles que acordam de manhã com vontade de não serem portugueses, ingleses, espanhóis, indianos, japoneses, americanos, mexicanos, franceses, russos, suecos, angolanos, marroquinos, entre todos os outros, o que há? nada. quando nascemos, ninguém nos entrega um inquérito com diversas perguntas como 'que religião deseja que lhe seja incutida, se alguma?' ou 'está contente com a nacionalidade portuguesa ou prefere outra, se sim indique qual?', mas era bom. ao invés disso, somos treinamos durante aproximadamente vinte longos anos a falar uma língua mãe que nos permite comunicar com as pessoas do nosso país, mas não de todos os outros. é-nos dito que os impostos pagam os cuidados de saúde e a protecção das pessoas por parte das autoridades e por isso devemos procurar um emprego respeitável para que tenhamos a capacidade de garantir essas necessidades básicas, assim como algum luxo pessoal. agrafam-nos a moralidade e a regras da vivência em sociedade, o conceito de certo e errado, bom e mau. contudo, somos seres egoístas com um livre arbítrio tão imprevisível como a reacção de uma mulher a uma declaração inesperada de amor. de volta ao formulário, para aqueles que simplesmente desejam uma existência selvagem de cabelos fartos e barbas grandiosas, seios descaídos e rabos queimados pelo sol, o que há? nada. de certo não se imagina como alguém pode querer tal coisa, mas eu também não imagino como se consegue roubar a vida a outro alguém e fazem-no. constantemente e demais.
para todos aqueles que gostavam de viver do que a natureza nos oferece, não trabalhar pelo produto que o supermercado oferece pronto a usar podia-se criar uma terra de ninguém, uma terra de todos. para os sem pátria, para aqueles a quem as barreiras não são lógicas. a árvore que cresceu no eixo exacto da fronteira, as hastes de cá são portuguesas, as de lá são espanholas.
concluo, após um pesar pensar, que tal utopia, por mais bem intencionada que fosse, seria impraticável. o ser humano tem a necessidade de conquistar, mandar, tornar-se poderoso. qualquer pedaço de terra não reclamado, cedo o seria. a anarquia não é uma solução prática apesar de cair tão bem na teoria. mas sonhar é bom, sonhar é mesmo bom. pode ser que um dia, o mundo seja uma única nação. a nação não-nação, és livre aqui, cuidamos uns dos outros.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

a coisa mais simpática que me disseram até hoje

"se toda a gente fosse feliz, o mundo era uma porcaria e se eu fosse sempre feliz, não queria estar contigo."

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

a canção do herói

dá-me um poder,
daqueles especiais,
p'ra que eu possa ser herói
de ti e nada mais.

dá-me um teu beijo,
só por esta noite,
p'ra que este desejo,
me deixe inconsciente.

sentir-te aqui ao lado,
tocar-te ao de leve,
carregar-te pelo céu azul,
no cabelo, floco de neve.

troca-me o mundo,
inverte as leis reais,
p'ra que estes meus poderes,
sejam bons e sejam fatais.

mas deixa-me cantar,
devagar e a morrer,
que este teu herói,
está cansado de correr.

encontra-te em perigo,
deixa-te apanhar,
eu quero ser herói
de algum amor ganhar.

confessa-te amigo,
que monstro encarnaste,
o teu ponto fraco,
uma chama ateaste.

este é o combate,
o meu palco de amor,
a conversa entre os dois,
desprovida de cor.

na hora do fim,
chega a tua carta,
ser herói já não basta,
que tu estás farta.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

amar até doer

tragam até mim essa jovem mulher,
recheada nos seus belos encantos,
em mim se abrem seus olhos espantos
nesta penetrante paixão de sofrer.

a voz, que cá dentro trava batalha,
anseia por ferrar também as garras,
pertencer às histórias que narras
e escorrer pelo gume da navalha.

abram-na para mim, querida flor,
deixem-me alimentar desse néctar,
analgésico contra a minha dor.

esta bela boneca de brincar,
que se despe aqui ou onde for,
só existe para apaziguar.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

explica-me mil vezes

- joão, ajuda-me rápido!
- o que precisas?
- ajuda-me aqui a fazer esta coisa. como fizeste da outra vez, lembras-te?
- lembro sim. não aprendeste?
- não percebi nada daquilo que fizeste, parece bastante complicado!
- é lá agora complicado, está atenta que eu explico-te.
- não podes ser tu a fazer?
- posso sim, mas não preferes que te ensine?
- a ver-te fazer essas coisas até me sinto burra.
- não és nada burra, toma atenção.
- está bem, faz lá rápido!
- vê como eu faço e para a próxima já não precisas de mim.
- incomoda-te muito que te peça alguma coisa, é?
- nada disso, faço com todo o gosto.
- então cala-te e despacha-te.
- mas não te fazia mal algum aprenderes também, um dia posso não estar por perto para te resolver isto.
- eu espero que chegues.
- ou posso estar ocupado.
- estás a dizer que te custa vires aqui ajudar-me?
- não, não! de todo!
- se é para vires com essa atitude, prefiro que não venhas.
- mas que atitude, joana?
- essa. peço-te ajuda e vens todo mal humorado.
- venho lá agora.
- vai-te embora, eu desenrasco-me sozinha!
- mas ainda não acabei.
- não interessa, não te quero aqui contrariado. se fazes tanto frete, mais vale não fazeres nada.
- não faço frete nenhum! deixa-me lá acabar isso.
- não quero! vai-te embora!
- porquê?
- depois dizes que só te chamo para me ajudares e que não sei fazer nada sozinha e não quero aprender.
- digo nada.
- dizes, dizes.
- como queiras.
- vai-te embora, vai-te embora!

domingo, 1 de agosto de 2010

pensar em ti

pensar em ti é apenas mal menor,
que tal devassa mente fantasia,
correr tais caminhos em demasia
que olhos vendados já sabem de cor.

pensar em fugir, ir daqui p'ra fora,
resistir ao cheiro desse cabelo,
e o anel que tens no dedo — rompê-lo!
p'ra não haver desculpa ou demora.

surge ao longe o selvagem babuíno,
vem acudir a sua dama em perigo,
mostrando o peito vermelho genuíno.

as hastes que trazes contigo, amigo,
são a oferta desse ser feminino
que partilhou da tua cama comigo.