tortura é ter-te comigo tão perto
e não poderes estar mais distante,
os teus olhos reflectem um amante,
os teus lábios — oásis no deserto!
p'ra infortúnio das mulheres — essas
que passam à minha frente na rua —
oh! meu coração, não pares... recua,
se por ela as paredes atravessas!
já não me lembro de sentir as veias
trepidar sob as camadas de pele —
esta pele que tu e só tu incendeias.
e o meu corpo, que tanto te é fiel,
sucumbe ao amor que tão bem doseias
em dose que sempre será cruel.
terça-feira, 22 de maio de 2018
cala-te
vai embora e vê se desapareces
de uma forma que seja permanente,
p'ra que jamais em mim, na minha mente,
invadas o cerne das minhas preces.
desliga a voz que à noite me sussurra
esses desejos que nunca exprimiste,
esse amor vazio que em nada consiste
e p'ra autoflagelação me empurra.
tivemos nada mais que um silêncio
breve, na pausa d'uma tempestade
que eu achava ser, em nós, um prenúncio.
talvez o problema fosse a idade,
mas ao mundo inteiro eu te denuncio
como um mar infindável de vaidade.
de uma forma que seja permanente,
p'ra que jamais em mim, na minha mente,
invadas o cerne das minhas preces.
desliga a voz que à noite me sussurra
esses desejos que nunca exprimiste,
esse amor vazio que em nada consiste
e p'ra autoflagelação me empurra.
tivemos nada mais que um silêncio
breve, na pausa d'uma tempestade
que eu achava ser, em nós, um prenúncio.
talvez o problema fosse a idade,
mas ao mundo inteiro eu te denuncio
como um mar infindável de vaidade.
domingo, 25 de fevereiro de 2018
proíbido
não posso autorizar o nosso amor,
se, de facto, tu me queres amar,
quando eu estou louco por te amar,
cozem-se-me as entranhas a vapor.
não olhes! corre! foge desgraçado,
antes que a vontade c'oa tua se una
e deixes de saber o que é fortuna,
porque estás novamente enfeitiçado.
quando não sou livre de amar quem quero,
não sou livre sequer p'ra respirar
esse aroma de ti que me é austero.
para o coração não me esquartejar,
um amor mais enfadado eu espero,
porque a força do teu vai-me matar.
porque a força do teu vai-me matar.
sábado, 24 de fevereiro de 2018
cocaína
tenho cocaína nas veias,
é a dose que chega ao fim,
é a fornalha que incendeias
quando passas por mim.
tenho a ruína do castelo,
que montámos em criança,
que apelidámos de belo
antes de perder a esperança.
tenho notícias do fundo
do saco que bate no peito
do homem a gritar ao mundo
que nada corre do seu jeito.
tenho sono imenso p'ra dormir
na cama que é grande demais,
na rua onde se fazem ouvir
os doces uivos dos chacais.
os doces uivos dos chacais.
esquisso de
poema rítmico
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018
antes de haver luar
antes de haver luar,
qualquer tipo de luz,
no fundo desse olhar
que a nada me reduz.
antes de haver beleza,
todo e qualquer apelo,
eras tu sobre a mesa
e em mim o teu cabelo.
antes de haver morte
ou resquícios de vida,
era já homem de sorte
d'amor sem medida.
antes de haver amor
ou qualquer outra dor,
faltava também a cor,
o sorriso ou o que for!
esquisso de
poema rítmico
sábado, 6 de janeiro de 2018
noite só
caminho estas ruas desertas,
as noites de estrelas cobertas,
entre o ténue assobio do vento
sou o maior poeta sem talento.
procuro perto uma porta aberta,
ando à deriva e à descoberta,
perdido entre ruas conhecidas
p'ra as quais não conheço saídas.
se numa cave encontrar um bar,
copos vou beber, cigarros vou fumar,
a alma inteira coloco sobre a mesa
p'ra que todos vejam esta fraqueza.
o meu corpo teima em existir,
o coração bate sem lhe pedir,
a circulação acelera em vão
p'ra me manter refém da solidão.
as noites de estrelas cobertas,
entre o ténue assobio do vento
sou o maior poeta sem talento.
procuro perto uma porta aberta,
ando à deriva e à descoberta,
perdido entre ruas conhecidas
p'ra as quais não conheço saídas.
se numa cave encontrar um bar,
copos vou beber, cigarros vou fumar,
a alma inteira coloco sobre a mesa
p'ra que todos vejam esta fraqueza.
o meu corpo teima em existir,
o coração bate sem lhe pedir,
a circulação acelera em vão
p'ra me manter refém da solidão.
esquisso de
poema rítmico
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