domingo, 30 de setembro de 2012

há-de pensar que é tolice

há um amor transcendente,
à espera de se revelar,
no coração dessa gente
que se afoga no mar.

os outros serão os outros,
interessa-me só ela
e os sentimentos neutros
pintados a aguarela.

tenho um coração encarnado,
com a fúria de um tufão,
que tudo fala calado
ou por detrás da mão.

por aí, eu a vejo sorrir,
como se o mundo lhe sorrisse,
fico-me pelo ir e não ir -
há-de pensar que é tolice.

fala - parece que canta,
respira como uma leve brisa
e quando lá se levanta
a minha alma paralisa.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

suspiro de palavras

por mais que possua,
sinto-me, em cada dia, com menos.
sou merecedor de requintadas relíquias,
mas pagam-me meia dúzia de seixos,
enquanto os demais me tratam por senhor
ao invés de vossa excelência.

pouco me importa!

eu sei que,
em mim,
sou mais do que no mundo.
esse sabê-lo-á um dia e a seu tempo,
se lhe importar questionar-se sobre isso.

há um punhado de consciências
sobre as quais lanço a sombra da minha,
com formas nem sempre verdade,
mas jamais completamente mentira!

aqui, guardo a chave de um enigma
cuja veracidade é dúbia
e a sintaxe um chão sem fundo.

as cabeças navegam pelo ar
e ninguém as sente fugir.
foram olvidados os caminhos que pisei,
será que nunca os conheci?

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

abandono

em vida, largas-me a mão e ignoras-me as façanhas
de que, em morte, ris em vão e partilhas aventuras,
doces, trépidas amarguras que te contraem as entranhas
num olhar apaixonado, numa noite às escuras.

o luar que me alumia sem brilhar é um ténue raiar
de sonho incoerente, mas feliz. sois vós que partis,
em silêncio, e me abandonais no fundo do mar
às memórias de um comboio que iludiu os carris.

a noite vai já longa, vazia e fria. transporto uma azia
que não mostra sinais de partir, aperta-me e arde.
lembro-me de uma rapariga que voava e se ria,
ela lá se entretinha e eu a espreitava como cobarde.

a primavera não tarda em terminar, mas eu sei
que todas as flores estão tristes pelo teu abandono.
eu, que nunca fui mais além, fosse um só dia rei
trazer-te-ia, mais ninguém, para partilhar o sono.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

barreiras

sentado, cansado, insensato - um pouco até,
já sem fé, tomou café,
levantou-se e pôs-se de pé, falou.
morreu no anonimato.

alguém se proclama - para lá das barreiras,
erguidas e opacas fronteiras,
no horizonte há fumo e bandeiras.
guerra.

ninguém reclama.