sábado, 27 de dezembro de 2014

um jogo de prazer: descrição do jogo


Figura 1: Jogo de prazer na sua forma extensiva (esquema em árvore).

na figura 1, está representado o jogo, apresentado anteriormente, na sua forma extensiva. penso que é bastante simples de entender e intuitivo. mais à direita, nos nodos terminais, estão representadas as recompensas do jogo. vou passar a explicar a minha escolha destes valores.
eu assumi que trair resulta em +1 de gratificação para o jogador 1 e não trair resultado em 0 gratificação. se traiu, não mentir resulta em -1 de gratificação e mentir em 0. se não traiu, não mentir resulta em +1 de gratificação e mentir em -1. para o jogador 2, o resultado é sempre 0, excepto no caso em que não houve traição, nem mentira e ela não acredita no benjamim e no caso em que houve traição, admissão e ainda assim não acredita no benjamim.
há situações que são muito irreais e essas estão modeladas com as piores recompensas, como é o caso de não ter um caso e admitir que teve. neste caso, ambos recebem -1 se a benedita não acreditar e perceber que ele está a usar aquilo como desculpa para sabotar a relação. se ela acreditar, neste caso, o benjamim recebe -1, porque se está a prejudicar sem qualquer tipo de gratificação.
ambos os casos em que a benedita acredita que o benjamim teve um caso extraconjugal estão modelados com recompensa nula para ambos. num, o benjamim obteve gratificação do caso, mas admitiu o mesmo — provocando uma desgratificação — e ela acreditou. no outro, o benjamim admitiu que não traiu — dando-lhe uma gratificação — e a benedita não acreditou, causando uma desgratificação.
os melhores resultados são o benjamim trair e mentir e a benedita acreditar e o benjamim não trair, não mentir e a benedita acreditar. ambos têm uma recompensa positiva para o benjamim. como vamos ver, estes resultados são os mais importantes e os mais comuns.
como se pode ver, o jogador 2 não sabe em que nodo do jogo se encontra quando chega a sua vez de jogar. ou seja, a benedita não sabe, quando o benjamim chega a casa, se ele a traiu ou não ou se ele está a falar a verdade ou não. as acções da benedita vão ser decisivas no resultado final do jogo, com resultados possíveis bastante contrastantes. contudo, ela não dispõe de qualquer informação à cerca do histórico do jogo. tudo o que ela sabe são os resultados possíveis, tendo em conta as possibilidades de jogada do benjamim e as suas próprias acções.

seguinte: análise e redução

um jogo de prazer: assunções

talvez não devesse publicar isto aqui, mas — de certa forma — até encaixa bem, na falta de um lugar melhor onde depositar tal ideia. após reflectir o assunto, imaginei um jogo que penso reflectir razoavelmente bem a situação de um caso extraconjugal masculino. vou passar a descrever agora as regras do mesmo.
vamos imaginar um casal — digamos o benjamim e a benedita — que está junto há alguns anos. a mãe da benedita morreu recentemente e ela anda distante do benjamim. certa noite, após uns copos com os amigos, o benjamim termina a noite à conversa com uma mulher desconhecida. entendem-se muito bem e agora começa o jogo em si.
existem 2 jogadores e o jogo desenrola-se num total de 3 jogadas. as duas primeiras pertencem ao jogador 1 (benjamim) e a última jogada pertence ao jogador 2 (benedita). cada jogador tem apenas de escolher entre 2 acções possíveis para cada jogada. começa o jogador 1 e tem de escolher uma do conjunto {Trair, Não Trair}. independentemente da jogada anterior, o jogador 1 joga novamente e desta vez tem de escolher entre {Mentir, Não Mentir}. ainda que, e.g., a escolha da estratégia (Não Trair, Mentir) seja inconcebível, será contabilizada no estudo do jogo. a última jogada pertence ao jogador 2 que tem as escolhas {Acreditar, Não Acreditar} e desconhece por completo as jogadas que o jogador 1 efectuou.
não são considerados factores externos que influenciem as decisões ou os resultados, assim como se desprezam as consequências dos mesmos como o divórcio ou outras represálias. só são contabilizados valores de utilidade que foram distribuídos na tentativa de tornar o jogo mais real e assumem apenas os valores -1 (perda), 0 (indiferença) e +1 (ganho). o principal objectivo é encontrar um equilíbrio. nenhum dos jogadores tem a intenção se sabotar a relação e preferem fazê-la funcionar do que estragá-la. assume-se que o benjamim não tem um histórico de traição. ou, pelo menos, não é do conhecimento da benedita.
as últimas assunções são tradicionais em teoria de jogos. ambos os jogadores são racionais e inteligentes. ou seja, conseguem prever os resultados possíveis do jogo, tendo em conta as acções do outro jogador e das próprias e procuram obter o melhor resultado possível.

seguinte: descrição do jogo

domingo, 21 de dezembro de 2014

alma incompleta

esqueci o nome dos anjos e santos,
esqueci as vontades e perdi a fé
que, de tanto rumar contra a maré,
esqueci, em mim, os sonhos... eram tantos!

os dias que faltam p'ra te ver... são quantos?
parece eternidade, mas não é,
daqui não vou sair ou arredar pé —
estou preso ao chão dos teus encantos.

o tempo que, sem ti, passa é veneno —
infiltra-se no sangue e atinge a alma,
onde já não sou senhor, nem ordeno.

e, sem o teu suspiro que me acalma,
sinto-me, entre os homens, o mais pequeno
p'la falta do teu amor na minha alma.

sábado, 20 de dezembro de 2014

o som dos teus passos

já percorri oceanos em tempestade,
que se fizeram crer calmas lagoas,
mas não o sabem as outras pessoas:
são lágrimas choradas de saudade.

lá p'ra trás ficaram, não por bondade,
descuido tal — pressa que me perdoas —
os ouros, os diamantes... coisas boas
p'ra enaltecer tua já grande vaidade!

todos os feitos — bem sabes que os fiz —
p'ra voltar a segurar-te nos braços
e encontrei-te por sorte, por um triz...

p'la força invisível dos teus abraços,
aprendi, finalmente, a ser feliz...
...até se cessar o som dos teus passos.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

a tua falta

porque me deixo eu encantar
pela tua varinha de condão,
quando nem tu a sabes usar
para encontrar um mísero botão?

tenho a mente conspurcada
pelas palavras que me não dizes,
quando, na rua, vamos de mão dada
e os outros pensam "estão felizes!"

já não sei se é tristeza de amor
ou se tenho amor pela tristeza,
que me persegue para onde for
com promessas de riqueza.

dessa riqueza estou eu farto
e tenho mais do que qualquer um!
...ou serei eu apenas ingrato
por nunca ter passado jejum?

estou louco, eu sei que estou
e não discirno da realidade
o que, na mente, se formou,
e, provavelmente, não é verdade.

quem se lembrou de te criar
e lançar na minha direcção?
jamais consegui acalmar
este cavalgante coração!

melancolia esta que não passa,
nem pelo céu e todas as estrelas
e eu já não sei o que faça
às memórias... vou perdê-las!

nada mais resta para dizer,
que já não to tenha sido dito,
mas ainda há algo que possa fazer,
se porventura me encontrar aflito.

a aflição que tenho da tua falta
é a pedra no sapato da minha alma.
lá dentro, ela corre, ela salta
e no conforto do meu pé se acalma.

és princesa do reino em mim
e não há espaço para rainhas.
neste coração que se fez ruim,
só quero as tuas saudades minhas.

domingo, 14 de dezembro de 2014

se eu te pudesse tocar

as vontades e os desejos que já não tenho, o ar que me falta para respirar e o controlo que perdi para caminhar são alguns dos sintomas que desdenho, porque me estou a apaixonar. faz tempo, muito tempo na verdade, que não me sinto assim — perdido. afinal, para que acordo eu de manhã, se não é para te ver? talvez seja para me lavar, alimentar e manter acordado até ao momento de te abraçar. nada me satisfaz que não traga consigo um pedaço teu: uma imagem, um som, um aroma, uma memória ou o simples mencionar do teu nome e, no entanto, cada uma dessas coisas magoa-me mais do que a precedente. cada lembrança tua, lembrança essa que é — de facto — constante, é uma adaga no coração que outrora foi de aço fundido e hoje é da mais tenra carne. são os efeitos secundários da saudade e eu já não sei o que é melhor: respirar ou cessar. cada batimento cardíaco é um pulsar contra as paredes do meu peito que mal consegue conter a fúria que o tenta desesperadamente perfurar para se libertar das amarras que eu mal atei. já não sei se estou louco ou sempre o fui e tu apenas o despertaste em mim, esse fantasma que entorpecido é doce como as calmas águas de um lago há muito imperturbado. se, ao menos, eu te pudesse tocar...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

catarina

és superior a essa banalidade
c'oa qual te construíram desde raiz,
de banal tens nada — nem o nariz,
perfeito à tua imagem e vaidade.

esse cheiro é encanto por inteiro
e entranha-se nos confins do meu ser,
é força que ninguém pode deter:
doce mel do mais puro e verdadeiro.

saudades eu trago da tua pessoa,
que enchiam este vasto oceano entre nós
até alagarem as ruas de lisboa.

nada apaga o doce som da tua voz,
esse teu dom assim me apazigoa
em qualquer momento que estamos sós.