o vento assobia-me o teu nome,
é gelo nos meus ouvidos,
mas eu corro, apesar da fome,
em oposição aos sentidos.
a lua um percurso ilumina,
eu o conheço de coração,
e tudo o que por lá caminha
é gente sem salvação.
ervas cortam-me as extremidades,
cobri tudo o que fui capaz,
mas há vis calamidades
que não lembram a um rapaz.
só mais um passo moribundo,
chegar onde mais não quero,
o único lugar no mundo
onde morro, porque espero.
há um arrepio preso em mim,
percorre-me a espinha e a alma,
sente próximo o fim
do coração que não se acalma.
e digo que tudo valeu a pena,
experimentar ser desordeiro,
saciar o pulsante dilema
que me corrói por inteiro.
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
três vezes teu nome “leonor!”
analisava uma amostra de sangue, sem me lembrar como chegou ali – às minhas mãos. foi então que me apercebi, quando espreitei pela janela do laboratório. a noite surgiu como o eco de uma pedra a atingir o fundo de um poço. gritei três vezes o teu nome “leonor! leonor! leonor!” e três vezes ecoou pelos adormecidos corredores do hospital psiquiátrico. desejei descobrir os teus íntimos segredos, ao nível das tuas ínfimas moléculas. estavas tão feliz por conseguires ser nada mais do que isso, que o meu ciúme temia tratar-se de outro homem. num segundo respiravas, no outro não.
sábado, 17 de dezembro de 2011
palavras que escrevo
não sei porque escrevo
ou o que escrevo,
só sei é que o faço
e faço-o porque me atrevo!
não falta o lápis e o papel,
leite quente e um pouco de mel,
o inverno frio sem luar,
um triste pintor sem pincel.
não falta tema, por mais mundano
que seja esse reles quotidiano,
a vida da criatura mesquinha
que apelidaram de "ser humano".
não há-de passar o dia
sem notícia de alguma euforia,
uma tragédia ou uma morte
para a caneta ficar vazia.
gosto de juntar palavras,
gerar padrões, repetições e ilusões!
há quem o faça com arte
e fá-lo bem por toda a parte!
mas também tem muito jeito
a total falta de sensatez,
quando toda a ilucidez
jorra do vazio do peito.
ou o que escrevo,
só sei é que o faço
e faço-o porque me atrevo!
não falta o lápis e o papel,
leite quente e um pouco de mel,
o inverno frio sem luar,
um triste pintor sem pincel.
não falta tema, por mais mundano
que seja esse reles quotidiano,
a vida da criatura mesquinha
que apelidaram de "ser humano".
não há-de passar o dia
sem notícia de alguma euforia,
uma tragédia ou uma morte
para a caneta ficar vazia.
gosto de juntar palavras,
gerar padrões, repetições e ilusões!
há quem o faça com arte
e fá-lo bem por toda a parte!
mas também tem muito jeito
a total falta de sensatez,
quando toda a ilucidez
jorra do vazio do peito.
esquisso de
poema rítmico
sábado, 10 de dezembro de 2011
o último dia
viu partir o último passageiro e trancou a porta. calmamente, levantou-se da sua posição de comando e caminhou em direcção aos lugares remotos que se escondem no fundo. sentou-se como os restantes, hoje não é mais o condutor. o ponteiro do relógio aponta para um duplo dueto, as horas contam-se em vinte. suspirou e, ao levar as mãos à cabeça, começou a chorar. não como um bebé, mas como uma estátua num dia chuvoso. vislumbrou toda uma vida repleta de gente, sempre a entrar e a sair, na máscara de um volante. todas essas vidas descritas pelas funções posição-tempo que se intersectaram com a sua por alguns instantes. lembra-se de cada conversa escutada: as discussões, os festejos, desabafos e medos. ainda que as estradas fossem sempre pintadas de igual, havia, em cada novo dia, algo de peculiar à espera de ser descoberto. a ténue repetição das sirenes torna-se intensa. aproximam-se montados em cavalos bravos, com as tochas e os machados em punho exigindo sangue do seu. com toda a razão, ele os espera. desta vez o destino foi outro, para lá das portas da morte. uma harmonia melancólica surge pé-ante-pé, mal se faz notar, e gradualmente inunda aquele enrugado coração da mais salgada tristeza. só há uma forma de se reconciliar consigo, expurgar o veneno da cobardia que o assola. a saída será grandiosa, barulhenta e mediática. para sempre se hão-de lembrar do nome que vergonhosamente desconhece, da expressão que vira apenas marcada pelo terror. a pequena rapariga, cuja alma entrou no seu autocarro demasiado cedo e cujo corpo se esqueceu na valeta embebido em sangue, merece um perdão nas páginas da história. por fim o encontram, apaticamente a aguardar os condecorados vigilantes da sociedade que juraram proteger os indefesos e injustiçados, barricado no fundo daquele veículo que foi para ele mais do que uma segunda casa. levantou-se com o som das janelas a partir e vislumbrou os estilhaços a voar na sua direcção. fechou os olhos e imaginou gotas do mar, expelidas pelas ondas que se destroem ao embater na areia em torno dos seus pés. o fim é luminoso, estrondoso, um autêntico épico. agora jaz também ele no chão que acaricia suavemente, agarrando-se aos últimos segundos em contagem regressiva. tudo foi o que devia ter sido.
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