sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

o mal que me vai na barriga

há problema grave, certamente, com a humanidade,
que a fome não se trave, se morrermos em liberdade,
que a verdade não se diga e a mentira, assim, prossiga
pelas bocas do mundo até que já nem mentira se consiga,
é por essas e por outras que, aquilo que mais me intriga,
é o mal que me vai na barriga.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

não sei onde errei

"em dias como hoje só me apetecia chegar a casa e ver-te na cama à minha espera," disseste-me tu, uma vez. nesse dia, ganhei o mundo com dezassete palavras. não sei ou consigo perceber onde errei. se calhar o problema foi ter sido correcto de mais. não sei ou consigo perceber. podia ter sido menos honesto e sincero; podia ter sido mais contido nas acções, nas palavras e nos olhares; podia ter amado com menos intensidade ou moderado a dose que saía cá para fora; podia, sim, mas estava a ir contra mim. já te disse que não sou contido. quando dou, dou tudo de mim. a verdade é que já não estás apaixonada por mim há algum tempo, se algum dia o estiveste — eu quero acreditar que sim e deixa-me acreditar nisso. tentei falar contigo e dei-te todas as oportunidades do mundo para teres o teu tempo, o teu espaço, a tua privacidade. só tinhas de mo pedir e eu dar-to-ia como sempre te dei tudo. eu não sou cego aos teus sinais, por mais que me tenha andado a tentar convencer que está tudo na minha cabeça — ou está, eu sou demente e isso é grave. já não te sinto apaixonada por mim quando olhas para mim, quando sorris, me seguras a mão e, principalmente, quando me beijas; já não sinto da tua parte qualquer desejo pela minha pessoa. eu não sei ou consigo perceber onde errei, mas diz-me por favor. é algo que eu tenho de corrigir e não entendo o quê. implorei que fosses honesta comigo e foi a única coisa que exigi de ti. sinto que nem isso foste capaz de me dar, de tão fechada que és. espero que um dia encontres alguém que te faça verdadeiramente feliz como tu mereces, porque claramente — e para grande dor no meu coração — essa pessoa não sou eu. não sei onde errei. se alguma vez tiveste paixão por mim, foi-se tão rápido quanto veio. se o problema foi eu ter ido depressa mais, não sei ser de outra maneira. perdoa-me, que eu também compreendo que não consegues — ou não queres, mas prefiro não acreditar nisso — ser de outro jeito. quero que saibas isto. não podes voltar a afirmar que nunca te amaram completa e verdadeiramente, com mais do que um só coração pode dar. pedi emprestado a forças superiores que, para sempre, me hão-de lembrar a dívida que tenho.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

beleza

a beleza não é tudo, mas é o começo de tudo.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

de nada me serve a eternidade

julguei querer partilhar dessa fama,
cujo nome em toda a parte ressoa
como o de Camões, Bocage e Pessoa,
que nunca souberam domar a chama.

julguei querer vir ser poeta, mas não —
a esses cabe sofrer por gosto e fado —
eu quero ser normal, não condenado
às chagas eternas do coração.

quero um pouco dessa felicidade
c'oa qual se embebedam gentes vulgares,
de quem invejo a falta de vaidade.

se as desgraças me ferem sempre aos pares,
de nada me serve a eternidade,
quando, em vida, morro nos teus olhares.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

homem de sorte

onde o teu silêncio me ensurda a paz
que julguei poder vir a ter, um dia,
nunca te fiz cobarde, mas capaz
d'alguma piedade por simpatia:

leva-me ao chão, não temas pisar,
ouve a razão, se alguma ainda tens,
em choros sóbrios me faço gritar
"solta esses lábios que guardas reféns!"

estou rendido à ilusão de ti,
jamais uma outra bateu tão forte
e jamais por outra tanto gemi.

julguei poder ser um homem de sorte
na louca paixão, mas já percebi —
serei só feliz às portas da morte...

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

vil doença que nasceu cega

sem saber — ou o fiz por esquecer —
deixei-me guiar até àquele lugar
c'oa certeza de lá não te encontrar
e a fraca esperança de te rever.

onde, um dia, fomos mais do que tu e eu,
fomos essa conjugação de nós,
na vontade de abandonar o sós,
que nunca chegou ao seu apogeu.

sem dó, pena ou piedade à memória
que este lugar, sobre os ombros, carrega,
voltas como celebrando vitória!

e, rejeitada toda a minha entrega,
ainda aguardo a tua doce vinda em glória
curar vil doença que já nasceu cega...

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

cegos

todos nascemos cegos e morremos cegos, porque, quando aprendemos a ver, escolhemos não o fazer.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

perder-se em vãs esperanças

não foram aqueles que me deixaram
a aguardar julgamento a descoberto,
p'ra que eu pudesse estar mais ao perto
dessa pele que outros já beijaram...

nem o vinho que me corre p'las veias
tem capacidade p'ra daqui escoar
o tumor negro que me está a matar
e a consumir as mais belas ideias.

nem há palavra p'ra a desilusão:
descobrir que ainda somos só crianças —
tão mal se sabem elevar do chão!

entre tantos movimentos e danças,
quem de nós primeiro disse que não
queria perder-se entre vãs esperanças?

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

carta

carta... uma carta — a última que te escrevo,
antes de começar a apagar o teu nome.
tanto te amei pelo prazer de te ter amado,
agora já nem me queres para servo.
ri por ti e ri contigo, ri muito mais que a fome!
intentei palavras com invólucro aveludado...

no teu coração, que só sabia estar fechado,
antes de o ser... já estava, há muito, condenado!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

insano

insano era o amor que jamais ousou te amar.