quinta-feira, 19 de julho de 2012

o grande fingidor

eu sou o grande fingidor
e essa gente finge comigo.
todo eu sou pura mentira
e eles acreditam no que digo.

há quem engane quem ama,
há quem ame o sexo errado,
mas eu sou pior, bem pior,
quando até minto calado.

eu sou quem não sou,
encarno outro na sociedade,
é-me mais fácil iludir
que encarar a verdade.

pudéssemos todos ser anjos,
não há empatia com demónios.
eu lá finjo ser homem bom
para não estoirar os neurónios.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

não te constrói o tempo

o amor é um tormento
que em nada é ligeiro,
nem se apaga com o tempo,
só o torna mais certeiro.

é uma unha encravada
num coração já doente,
com a tristeza calejada
por um sonho recorrente.

é fraqueza num instante
em que se perde a cabeça
pelo movimento oscilante
que o tempo lá esqueça.

é um breve fechar de olhos,
uma reza em segredo,
pedir e implorar de joelhos
por uma noite sem medo.

é uma melodia silenciosa
que ressoa nas entranhas,
fingindo-se de preciosa
e outras coisas estranhas.

é uma carta por preencher
com palavras sem sentido
e tanto que ficou por dizer
para a eternidade retido.

sábado, 14 de julho de 2012

depois da meia noite

gosto de me ver ao espelho, admito. não por vaidade, mas porque me esqueço muitas vezes de quem sou — da minha própria cara. tenho necessidade de recordar a máscara que trago colocada, num dado momento, para saber qual o papel a interpretar. é tão mais fácil interagir por um véu translúcido, já que a nudez é explorável. os sentimentos, frágeis como são, pairam no ar como bolhas de sabão. só o teu não é o sopro que os rebenta contra a parede, atrás de lábios contrariados que não conhecem modéstia. se o mundo fosse feito por medida, tudo seria céu e mar. só restaria quem soubesse nadar ou voar, para que nada jamais fosse fácil. o descanso é a recompensa que a morte nos dá, com a gentileza de uma mãe. tudo o que é belo é-o sem adição. não tentes embelezar o que nunca foi feito para ser agradável e destrói-o antes que cresça sem travão. eu prefiro ir de encontro à morte emocional do que perder-me no abismo da esperança.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

um corvo no coração

perguntei a todas as raparigas que conheci "que tipo de pássaro és tu?" e só tu respondeste prontamente "um corvo!" para eu te amar sem pensar.