sábado, 14 de julho de 2012

depois da meia noite

gosto de me ver ao espelho, admito. não por vaidade, mas porque me esqueço muitas vezes de quem sou — da minha própria cara. tenho necessidade de recordar a máscara que trago colocada, num dado momento, para saber qual o papel a interpretar. é tão mais fácil interagir por um véu translúcido, já que a nudez é explorável. os sentimentos, frágeis como são, pairam no ar como bolhas de sabão. só o teu não é o sopro que os rebenta contra a parede, atrás de lábios contrariados que não conhecem modéstia. se o mundo fosse feito por medida, tudo seria céu e mar. só restaria quem soubesse nadar ou voar, para que nada jamais fosse fácil. o descanso é a recompensa que a morte nos dá, com a gentileza de uma mãe. tudo o que é belo é-o sem adição. não tentes embelezar o que nunca foi feito para ser agradável e destrói-o antes que cresça sem travão. eu prefiro ir de encontro à morte emocional do que perder-me no abismo da esperança.