era uma vez, outra vez,
um rapaz apaixonado
e sem sensatez
que acabou destroçado.
a história está cheia
de condenados amores,
um só se incendeia
e acaba sem cores.
(o conto que conto
seria até engraçado,
não fosse o rapaz tonto
ter-se magoado.)
maria, elvira ou inês,
rapariga sem igual,
tinha sotaque francês
e, na cara, um sinal.
só se dava com rapazes
e portava-se como um,
coleccionava cicatrizes
e gostava de atum.
de tudo, o mais curioso:
ela detestava abraços
e esse acto asqueroso
afastava-a mil passos!
o pobre rapaz, um dia,
rejeitou a noção de dor
e disse que tudo faria
para tomar aquele amor.
cortou o braço esquerdo,
depois cortou o direito,
o que fez, fez em segredo
e o corte foi perfeito!
(como, eu não sei)
ele fê-lo sem pedir ajuda,
à margem daquela lei
que o coração fez muda.
o desmembrado rapaz
não agradou à inês
(recordei-me lá atrás)
e em lágrimas se desfez.
(temos de nos lembrar,
ainda que seja duro,
o que fazemos por amar
é um tiro no escuro.)
de coração partido,
só pensava em morrer,
o rapaz destemido
já nem podia comer!
nem mãos, nem braços,
as noites eram lentas,
os sonhos escassos
e as ideias nojentas.
sem alívio para a agonia,
deitou-se sobre os carris
e lá para o final do dia,
finalmente, foi feliz.