há tempo que passa sem passar,
como quem chega à meta
sem largar o lugar da partida,
é um olhar sem olhar
para esse passado atleta
que nos alcança sem guarida.
eu sou já um homem morto,
por nada ter que me garanta
um lugar por entre o vivo,
nem esse cálice de vinho do porto
que me escorre pela garganta
até ao peito já sem cultivo.
vale-me esse amor que tenho,
por nada mais haver para dar
além deste corpo já não meu,
é só mais um entre o rebanho
que imita esse dom de respirar
de outro alguém, que não o seu.
a noite tarda em tardar,
por chegar bem antes do convite
no vestido negro remendado,
talvez esteja já eu a sonhar
com o beijo da morte me levite,
essa rainha do meu reinado.