questiona tudo, questiona nada,
dá-me tudo de mão beijada,
leva contigo este meu amor,
que nunca soube onde se pôr,
para que te olhe pela madrugada.
eu ignoro-te com tal atenção
que jamais dei a outro coração,
mais fraca que aquela que dás,
mas tu és mestre em dar para trás
com esses olhos que nada me dão.
e tudo o que ofereces em segredo —
já nem sei se por prazer ou medo —
são fantasias que se enraizaram
em mim e a mim me infernaram
nesse teu raiar que se desfez cedo.
faz as tuas perguntas e tira nota,
que a resposta — seja boa ou idiota —
é, para ti, um tanto cheia de nada
que a já sabias antes de formada
ou sequer a dúvida bater à porta.
mas a dúvida bateu e entrou,
porque deixaste — não se calou,
ficou e ficou a moer, moer, moer
e nenhum se atreveu a dizer:
foi amor que nunca se amou.