sexta-feira, 8 de julho de 2011

a noite

a noite, para mim, é uma viagem idiossincrática. os meus sonhos são um interruptor que separa o adormecer do acordar. mal me deito e o sol já faz por me massacrar. nunca houve um doce luar, é tudo um ciclo vicioso de sofrimento. quando me falta, anseio por ela. mas com o primeiro raiar do brilho da lua, abomino a sua existência. rogo-lhe pragas para que me abandone à eterna escuridão do sol. o mundo estagnou e eu sou a única peça móvel neste imenso tabuleiro, mas escolho ficar. escondo-me à vista de todos, imobilizado até o medo desaparecer. senhora de negro, que chegas inesperada em pé levemente, guarda para ti o beijo do crepúsculo e abraça-me na alvorada. apenas o sangue da cidade faz brilhar junto de mim um pequeno refúgio luminoso, mas é arte do homem. prefiro o ténue cintilar das estrelas que tão orgulhosamente ousas apresentar, noite após noite. o que esperas de mim, eu não sei. tudo o que preciso é uma cantiga de embalar, para que eu saiba que adormeci contigo ao lado. quando acordar, preciso de saber que foi tudo um belo sonho e não apenas um pressionar no botão que altera a faixa diária.