já não sei quem foi (ou o quê)
que me deixou neste estado lastimável,
se foi o tempo que passou (passou porquê?),
se foi a última palavra amigável.
os dias atropelam-me, um a um,
com a pressa de atingir primeiro o fim,
mas o fim chegará em dia nenhum,
o mesmo dia em que ela sairá de mim.
resta um só vestígio no fundo
dessa emulsão que dançava por aí,
nunca soube nada do mundo,
nem as gentes que tem eu lhe vi.
já sei quem foi, já me lembrei
da rainha do meu reino de mágoas
que, por um dia, me deixou ser rei
antes de me atirar ao abismo das águas.
as gotas atropelam-me, uma a uma,
com a pressa de me afogar em vão,
vem que o amor que aqui se assuma
não mais temerá implorar perdão.
sobra-me uma só réstia de esperança
que a morte me tenha em boa estima,
guardo no sótão da minha lembrança
essa paixão da qual fui vítima.