penso sempre no meu primeiro amor, e logo de repente me inundam o pensamento memórias tão distantes e difusas. como aquela rapariga que tinha uns olhos verdes e grandes, mesmo bonitos. sempre me questionei porque não havia reparado nela antes ao que, numa conversa informal - daquelas como quem não quer a coisa - com uma das suas amigas, me foi dito que tinha acabado de sair de uma dieta rigorosa. somos todos tão superficiais a este ponto, alguém que num momento nos acende a chama piloto cá dentro fora tão invisível antes. é claro que eu não parava de falar na rapariga dos olhos verdes, não de relva mas talvez de alface. acabei por a conhecer. no dia da entrega das notas estávamos a falar no jardim em frente à escola e no acaso da conversa ofereci-me para a escoltar a casa. ela aceitou. a vontade, os sinais, o ambiente estavam lá, menos o primeiro passo. assim, à porta de casa dela perguntou-me para onde eu ia e concluiu que se tratava de uma distância considerável e ofereceu-se para me acompanhar. eu aceitei. é claro que a meio da nossa viagem apercebi-me que um rapaz não deve deixar uma rapariga andar sozinha, especialmente depois de se ter oferecido para a levar a casa. voltámos para trás. mais um dedo de conversa à porta de casa e vou-me embora. fosse hoje, tinha-lhe roubado um beijo ali mesmo. há coisas que nos arrependemos imenso de ter feito - são as piores -, mas há também tanto que nos arrependemos de nunca ter tido a coragem para tentar - são o nó na garganta que o tempo atou. agora já é tarde, na altura eram só coisas de miúdos.