hoje, de regresso a casa, enquanto contornava a rotunda, reparei na longa fila de carros na direcção de minha casa. encontrando-me num estado de mau-humor, decidi - no curto intervalo de tempo que tinha disponível - completar a rotunda e tomar o sentido oposto. esse caminho, a partir do lugar onde me encontrava, era bastante mais longo, mas o que eu não queria era ficar parado à espera na fila. desde que estivesse sempre a andar não me importei que a distância a percorrer fosse maior. como é óbvio, a minha condução confinou-se à faixa da esquerda e a cortar as rotundas. contudo, por me manter sempre na faixa da esquerda, cheguei a uma onde não me foi possível seguir em frente e não me apeteceu dar uma volta completa pelo que tomei a primeira saída possível. escusado será dizer que neste ponto, o caminho que estava a fazer para casa não podia ser mais longo. a minha vontade era de bater com a cabeça no volante enquanto a carrinha que seguia em frente raspava nos cinquenta quilómetros por hora. finalmente, após percorrer o triplo da distância no triplo do tempo, cheguei a casa. esta situação pôs-me a pensar no que aconteceria se eu não tivesse voltado para trás na primeira rotunda e simplesmente tivesse ido pelo caminho normal, esperando na fila como toda a gente. será que iria ter um acidente e toda esta peripécia livrou-me de tal coisa? será que a pessoa que seguia no outro carro desse acidente seria uma rapariga que, após alguns cafés para discutir os detalhes das seguradoras, acabaria por estar a discutir comigo que meias comprar aos nossos netos daqui a cinquenta anos? ou seria um rapaz que sentia que os cintos de segurança matam mais pessoas do que conseguem salvar e sofreria graves lesões derivadas do acidente? é impossível saber, mas é interessate divagar. hoje em dia penso muito no acaso e como este influência a nossa vida, especialmente sem nos darmos conta que ou como o faz. particularmente entusiasmante é tentar imaginar todos os cenários possíveis e diferentes que a curva da nossa vida poderia tomar se tivéssemos tido outra atitude, decidido o oposto, combinado encontros diferentes. toda uma infinidade de possibilidades que nos levam a cruzar com umas pessoas e a evitar outras, tão aleatoriamente quanto a posição do pequeno electrão em torno do núcleo atómico.