quarta-feira, 20 de agosto de 2014

andorinha

tanto sono e não consigo parar,
quero andar sem me mover,
tenho tanto para desejar,
se me libertar para o querer.

hoje, o céu fez-se fusco
e iluminou-te sem vontade
e o vento, de tão brusco,
entornou tua vaidade.

haja alma que te acuda
com a maior da bondade,
já que a voz, feita muda,
pouco clama por liberdade.

que gaiola de cristal
te enclausurou, passarinho?
quem ousou fazer-te mal
e roubar o teu caminho?

só quem não te viu voar
é capaz da atrocidade
de impedir o teu bailar
entre o mar e a cidade.

ainda guardo esse sonho
de passear à beira mar
e olhar o céu, risonho,
à espera de te encontrar.

o sol põe-se a oeste
e leva consigo a esperança
que o beijo que me deste
foi mais que uma lembrança.

é nas margens da amargura
que eu morro da saudade
que escorre pela fissura
que causou tua liberdade.

esse monstro teu sou eu,
que cedo te cortei o voo
no direito que não era meu
com o acto que não perdoo.

ó andorinha, foge de mim
e leva o teu bailar encantado,
que eu sou velho e ruim
e tenho o coração conspurcado.