as vontades e os desejos que já não tenho, o ar que me falta para respirar e o controlo que perdi para caminhar são alguns dos sintomas que desdenho, porque me estou a apaixonar. faz tempo, muito tempo na verdade, que não me sinto assim — perdido. afinal, para que acordo eu de manhã, se não é para te ver? talvez seja para me lavar, alimentar e manter acordado até ao momento de te abraçar. nada me satisfaz que não traga consigo um pedaço teu: uma imagem, um som, um aroma, uma memória ou o simples mencionar do teu nome e, no entanto, cada uma dessas coisas magoa-me mais do que a precedente. cada lembrança tua, lembrança essa que é — de facto — constante, é uma adaga no coração que outrora foi de aço fundido e hoje é da mais tenra carne. são os efeitos secundários da saudade e eu já não sei o que é melhor: respirar ou cessar. cada batimento cardíaco é um pulsar contra as paredes do meu peito que mal consegue conter a fúria que o tenta desesperadamente perfurar para se libertar das amarras que eu mal atei. já não sei se estou louco ou sempre o fui e tu apenas o despertaste em mim, esse fantasma que entorpecido é doce como as calmas águas de um lago há muito imperturbado. se, ao menos, eu te pudesse tocar...