domingo, 25 de abril de 2010

o diário

entrei eu por esse teu mundo fora
perdido em arbustos de inocência
só para me encontrares em boa hora
e me encheres de feroz incandescência.

vi-me tanto tempo arder sem susto
do fogo que negligenciavelmente ateaste
e foi com muito suor e muito custo
que daquela sombra te livraste.

tinha já o bom quente feito as malas
esperávamos nós a visita das lágrimas
nada era relevante, nem mesmo as falas
ou as dores dos primeiros sintomas.

terá sido algum dos meus olhares
um gesto, uma reacção, uma palavra
espreitavas por detrás das flores
uma apenas e já não havia outra.

que mistérios escondia aquele mundo
perguntaram-se os quatro e nenhum sabia
no escuro tomaram a posse do fundo
mas era só aquele descruzar que eu via.

a seu tempo as lágrimas desvaneceram
via-se nascer da lama tanta alma pura
os medos que num sorriso desapareceram
não foram mais que sol de pouca dura.

na calma de um dia de sol intenso
sinais como frio, vento e chuva
não podiam ser ignorados pelo senso
que acabaria por só trazer amargura.

viveu-se um período de amor frio
a tensão dum lado à procura do outro
ódio não mais que o coração retido
à procura do carinho e do conforto.

tempos confusos, desafios estranhos
palavras esquecidas expostas na testa
de novo surgia uma trovoada de empenhos
camuflada esta que não tinha pressa.

um ciúme reprimido pela vontade
momentos feitos apenas para a memória
finalmente num êxtase de verdade
permanece assim contada a nossa história.

estava na hora do chá e tudo aconteceu
uma pausa merecida na escrita do conto
procurará noite e dia encontrar a fúria
insaciável que um dia foi de provar.