a vida é um caminho unidireccional pavimentado de desilusão.
desilusão, dissabor, amargura, ansiedade, inquietude, angústia.
a vida não é perfeita.
a vida não é cega, surda e muda.
a vida não é um regime totalitário.
a vida é decepção e tristeza sem fronteiras.
a auto-estrada que entramos no dia zero da nossa vida,
aquela cujo destino não é trabalho ou prazer,
é dever.
um buraco na estrada,
a falha no pavimento,
a certeza de que a vida não é perfeita,
é um desvio à direita.
enquanto se remenda o nosso rumo,
inesperado,
a caixa de velocidades não admite o sentido inverso.
não há escolha,
resta a aventura.
são estes atalhos,
estes desvios repentinos,
a guinada no volante,
são as falhas na melancolia da existência,
estes trilhos de terra batida,
que nos levam o sentido de orientação.
(que bom que sabe,
perder de vista a via da infelicidade,
nem que,
por um breve instante,
e que se derrete na boca.)
sim,
foi a estes atalhos,
atalhos, desvios e acessos condicionados,
foi a eles quem aprendemos a chamar:
memórias.
boas memórias.
lembranças que nos esboçam um leve sorriso,
mesmo em perfeita solidão.
no fim,
são o último foco de luz,
o único farol,
na nossa efémera escuridão.