não era inteligente, mas era audaz.
chamava-se eduardo cabeça de alfinete -
um pouco peculiar, um pouco diferente.
as temíveis gentes, lá da sua aldeia,
gostavam de fazer troça da sua pequena ideia.
nasceu com o cordão umbilical ao pescoço
e, desde então, a vida não passou do esboço.
condenado a desistir, sem oportunidade de tentar,
nunca provou da doce doçura de ganhar.
vagueava as ruas com as orelhas retraídas,
as gentes não se entretêm com as próprias vidas.
no cerne do peito existe um lago de coragem,
que, de um lado, não se avista a outra margem.
só uma pessoa se dignava a doar-lhe atenção,
de seu nome e beleza: inês mãos de coração.
trazia sempre um laço na cabeça - a rapariga,
trazia sempre ele no bolso uma pequena formiga.
houve algo que geminou - bem no fundo,
era uma semente - do tamanho do mundo.
os olhos de inês, como raízes incrustaram,
aquele coração que as outras não amaram.
amor que é amor - jamais se derrota,
nem desdenhado em terrível chacota.
inês mãos de coração: perfeita, mas com um defeito -
é que, para cantar, não tinha qualquer jeito.
quando estava triste, desanimada e sem cor,
ia eduardo à chuva e colhia-lhe uma flor.
à noite, por vezes, era difícil dormir -
abraçavam-se e perdiam as forças a rir.
no sangue não corre somente biologia,
existe algo que pode muito bem ser magia.
quando feriu a perna a apanhar peixe para o jantar,
ela correu para ele e beijou-o até sarar.
foi então que, numa gélida noite de inverno,
tiveram eduardo e inês de provar o inferno.
primeiro tempestade e depois a terra tremeu -
inês soube no seu coração que eduardo morreu.
não chegou para jantar, como era normal,
atacaram-no como a um selvagem animal.
bernardo cauda de escorpião foi o culpado,
em amor de inês, apaixonada por eduardo.
ferrou-lhe o espigão, encheu-o de veneno,
abandonou-o sem vida, pálido e sereno.
para a bela inês nada disto é claro,
gozar do fruto proibido sai tão caro.
em três semanas apenas, também ela se ceifou -
do fétido sabor da angústia que na sua alma entrou.
é assim que chega ao fim, a trágica história
de que somente dois corações guardam memória.
e, desde então, a vida não passou do esboço.
condenado a desistir, sem oportunidade de tentar,
nunca provou da doce doçura de ganhar.
vagueava as ruas com as orelhas retraídas,
as gentes não se entretêm com as próprias vidas.
no cerne do peito existe um lago de coragem,
que, de um lado, não se avista a outra margem.
só uma pessoa se dignava a doar-lhe atenção,
de seu nome e beleza: inês mãos de coração.
trazia sempre um laço na cabeça - a rapariga,
trazia sempre ele no bolso uma pequena formiga.
houve algo que geminou - bem no fundo,
era uma semente - do tamanho do mundo.
os olhos de inês, como raízes incrustaram,
aquele coração que as outras não amaram.
amor que é amor - jamais se derrota,
nem desdenhado em terrível chacota.
inês mãos de coração: perfeita, mas com um defeito -
é que, para cantar, não tinha qualquer jeito.
quando estava triste, desanimada e sem cor,
ia eduardo à chuva e colhia-lhe uma flor.
à noite, por vezes, era difícil dormir -
abraçavam-se e perdiam as forças a rir.
no sangue não corre somente biologia,
existe algo que pode muito bem ser magia.
quando feriu a perna a apanhar peixe para o jantar,
ela correu para ele e beijou-o até sarar.
foi então que, numa gélida noite de inverno,
tiveram eduardo e inês de provar o inferno.
primeiro tempestade e depois a terra tremeu -
inês soube no seu coração que eduardo morreu.
não chegou para jantar, como era normal,
atacaram-no como a um selvagem animal.
bernardo cauda de escorpião foi o culpado,
em amor de inês, apaixonada por eduardo.
ferrou-lhe o espigão, encheu-o de veneno,
abandonou-o sem vida, pálido e sereno.
para a bela inês nada disto é claro,
gozar do fruto proibido sai tão caro.
em três semanas apenas, também ela se ceifou -
do fétido sabor da angústia que na sua alma entrou.
é assim que chega ao fim, a trágica história
de que somente dois corações guardam memória.