terça-feira, 23 de agosto de 2011

quando éramos pequenos #8

são demasiadas as vezes em que dou por mim embaraçado por cenas do passado, talvez mais do que fiquei quando realmente aconteceram. outras são eternas espinhas na garganta e tudo o que podemos fazer é evitar lembrar que lá residem. nem sempre é fácil. acontece também, com uma frequência superior às expectativas, mentirmos sobre pressão. mas o que torna esta afirmação fantástica é que a mentira é auto-degradante. quando se entra em falácia é esperado que seja para melhorar a própria imagem face aos que nos ouvem. no entanto, dou comigo a distorcer a verdade para dar uma imagem pior de mim. são coisas do momento, quando os neurónios não tiveram tempo suficiente para processar a informação antes de os músculos dos lábios receberem ordem de acção. há uns anos atrás, conheci uma simpática rapariga. era muito bem parecida e eu nunca cheguei a acreditar que ela pudesse revelar qualquer tipo de interesse pela minha pessoa. certo dia, fomos até à casa dos seus avós, que se encontrava inabitada, com o intuito de captar fotografias àquelas paredes esquecidas algures no tempo. estavam presentes mais um rapaz e uma rapariga, amigos. os nossos interesses eram, certamente, outros. começámos com jogos de adolescentes, para ver se se roubavam uns beijinhos aqui e ali. a contrapartida é que o jogo envolvia perguntas e numa delas eu devia responder quanto tinha perdido a virgindade. a verdade é que não havia qualquer data para responder. senti os olhos deles postos em mim, a julgarem-me, ansiando uma resposta credível. tudo o que consegui balbuciar foi que teria sucedido no ano anterior, uma mentira. a mesma questão caiu sobre a rapariga dos meus olhos e ela prontamente respondeu que acontecera durante os seus quinze anos. o meu mundo caiu e eu fiquei suspenso no vazio a tremer e a vasculhar tudo em meu redor numa procura incessável para encontrar algo onde me pudesse sustentar. voltei a cara para longe do seu olhar e comprimi as gotículas que se formavam de volta para dentro daquelas que foram as glândulas mais insultadas da minha existência. bati, involuntariamente, com a cabeça na parede e pensei em saltar da janela só para que aquele momento terminasse de uma vez por todas. cinco segundos e tudo passou em falso, o jogo continuou. o passado morre ao lado, pensei. uns dias depois, corri para a ver durante o intervalo da tarde. beijámo-nos, finalmente, pela primeira vez. o beijo em si não foi nada de especial, talvez o pior que já experimentei, mas o momento foi marcante. senti-me flutuar, como se o mundo coubesse na palma da minha mão e eu ditasse o seu destino. ela deixou de me falar, subitamente. até que, nos dias que sucederam, recebi uma carta onde se desculpava. explicava que se tinha voltado a entender com aquele que havia sido seu amante no passado. são os pequenos episódios da minha vida que me fazem corar de cada vez que me assombram o pensamento. tudo o que posso fazer é esperançar que as memórias daquelas personagens sejam piores do que a minha. eu sigo o novo dia convencendo-me de que se tratavam apenas de coisas de miúdos.