eu sou um cão. ão! ão! ão!
dócil, bem treinado e castrado,
o pêlo está um pouco eriçado,
mas vê que rica dentição!
por favor, atira-me a bola,
eu vou a correr, correr, correr!
só isso me fará esquecer
o doce abraço da tua sola.
ah! foram quantas lambidelas
que eu dei nos teus pés?
sim, muitas mais do que dez
e até à luz das velas.
mas a servidão e a lealdade
são os pecados gravosos
desses seres gananciosos
que só pedem liberdade.
eu sou um cão. ão! ão! ão!
bate-me, se me porto mal
e eu sou o mais doce animal
a implorar esse teu perdão.
um dia serás uma cadela
e eu não mais te quererei,
nem tão pouco te servirei
as papas numa tigela.
eu sou um cão. ão! ão! ão!
sou um macho sem cadela,
mas prefiro andar ter trela
a ser nada mais do que cão.