o inverno chega a horas
aos teus olhos cor-de-mel
e eu pergunto "porque choras
as palavras num papel?"
as tuas noites em melancolia
são uma janela mal fechada
e eu abuso dessa cortesia
para uma conversa mais alargada.
aquece-me — essa tua presença,
mesmo fictícia — em verdade,
há quem já muito te pertença
e por ti sofre de saudade.
escondes o verão no cabelo
e, nos lábios, o outono,
trazes à minha prisão de gelo
um adeus ao abandono.
por mais que te minta,
mal consigo esconder:
desde a última quinta,
não te consigo esquecer.
se este meu relato é real,
a ousadia não tem limite,
calhar-me-á a pena capital
ao máximo que a lei permite.
és um sonho arrojado
que sonhei sem permissão —
esse pedido foi recusado
antes mesmo da submissão.
aqui espero o fim do inverno,
quando o sol brilhar, por fim,
no teu coração sem governo —
onde não há lugar para mim.