terça-feira, 23 de outubro de 2012

os tangos de maria de fátima

um dia - fatídico dia esse,
entre muitas horas perdidas,
na mente de quem se esquece,
as vistas foram feridas.

já não servem para trabalhar,
são empecilhos redundantes -
outrora fizeram-se chorar
e no rescaldo eram brilhantes.

por cinquenta e seis vezes
contornaram o sol
e suportaram as cruzes
que lançaram o anzol.

reformada - está só
na sua negra invalidez,
não mais sai de alijó -
lá se vai a lucidez.

maria tem um amigo,
nada menos que o melhor,
carrega-o sempre consigo -
vá maria por onde for.

esse amigo que canta
em vozes tão diferentes
conta, ao seu nome de santa,
as novidades das gentes.

maria é maria de fátima
e só o rádio a acompanha
na sua vida de lástima,
no seu vale da montanha.

um tango por dia,
para dançar com a vassoura,
é a única alegria
desta mágoa sem cura.