um dia - fatídico dia esse,
entre muitas horas perdidas,
na mente de quem se esquece,
as vistas foram feridas.
já não servem para trabalhar,
são empecilhos redundantes -
outrora fizeram-se chorar
e no rescaldo eram brilhantes.
por cinquenta e seis vezes
contornaram o sol
e suportaram as cruzes
que lançaram o anzol.
reformada - está só
na sua negra invalidez,
não mais sai de alijó -
lá se vai a lucidez.
maria tem um amigo,
nada menos que o melhor,
carrega-o sempre consigo -
vá maria por onde for.
esse amigo que canta
em vozes tão diferentes
conta, ao seu nome de santa,
as novidades das gentes.
maria é maria de fátima
e só o rádio a acompanha
na sua vida de lástima,
no seu vale da montanha.
um tango por dia,
para dançar com a vassoura,
é a única alegria
desta mágoa sem cura.