se for para amar, esse amor já existe -
possivelmente, foi desenhado
muito antes de termos acordado
neste sonho que, em nós, persiste.
esse fluído ilusório e lábil,
escorre pelo espaço entre nós
e segue vagaroso para a foz —
onde termina o que é fácil.
pois é na imensidão do mar
que o amor acaba por se perder
e nós amantes, sem o saber,
nos cruzamos — sem nos cruzar.
esta sentença é de morte,
por sermos estranhos à nascença
quando não há amor que vença
sem uma réstia de sorte.
é o acaso e nada mais
que nos acresce, por fim,
mas eu sei e sei, em mim,
que passou tempo demais.
em encontrar-te, eu fui feliz -
o destino estava traçado,
mas temi-me condenado
neste amor por um triz.
estava escrito, desde o princípio,
e por pouco não se perdeu —
foi um momento, meu e teu,
que passou — como um arrepio.
talvez o acaso só o seja
por acreditarmos que assim o é
e, talvez, um só pouco de fé
baste para que o amor se veja.
revolta-me — isso sim —
todo o tempo em solidão,
soubesse eu de antemão
que seríamos um, no fim.
em toda a verdade digo:
esta espera valeu a pena
e esperaria outra centena,
mas prefiro-a contigo.