agora que conheces o homem, pensas entender a sua alma,
a alma que os outros comem, mas cuja fome não se acalma.
falta apresentar-te à besta, o monstro que trago enclausurado
e, no fundo, é o que resta da vida de um homem amargurado.
tu vives na torre da ilusão, erguida por blocos que te neguei,
fazes de insana a razão para a qual eu sempre te chamei.
jamais eu fui ser subtil no recorte que faço à minha montanha,
enquanto me tomas por gentil, já estou podre desde a entranha.
não oiças a voz da saudade, que te ensurda os demais sentidos
e se me vieres com piedade, dar-te-ei anos perdidos.
livra-te da presença do bicho enquanto homem se apresenta,
serás só mais um capricho que consta na sua ementa.
estou tão longe de maligno como o sol de neptuno
e este retrato fidedigno, porventura inoportuno,
é o derradeiro esforço de uma mente bem cansada
de viver no fundo do poço, rodeada de tanto nada.