hoje, estou triste e não sei porquê. passei as horas a olhar imagens de ti e o teu sorriso, sempre presente, nunca esteve tão ausente de mim. não sei se foi a falta do cheiro que deixas comigo ou a alegria que me cravas no coração, como um lembrete a ti própria. todos os dias, assim que acordo, não abro as janelas ao sol. abro o coração a ti e inspiro fundo este ar que é também teu. oh! se soubesses o bom que é lembrar-me de que partilhamos o mesmo planeta, pisamos a mesma terra e beijamos o mesmo mar. quem sabe, um dia, iremos remover o gosto do sal sobre os lábios um do outro. iremos enjoar do sal que nos queima, iremos enjoar do anoitecer que nos arrefece, iremos enjoar da areia que se gruda em nós e do vento que tudo leva. tudo leva, menos nós. o nosso amor está para vir, os beijos são para ficar e a vontade rende-se ao partir. iremos fugir, pé ante pé, com uma mão que une dois braços desejosos de se tornarem um só. iremos ao primeiro esconderijo que encontrarmos e lá, onde o mundo cessa de palpitar e o próprio tempo suspende a respiração, será garantida a permissão para deixar o amor ser amor e seguir o seu rumo descendente. não parará de correr até atingir o afluente que o devolve ao mar. esse mar salgado que, pela manhã, enrola na espuma os segredos da noite passada. ficam, assim, para sempre gravados nos interstícios de mil e uma areias que amanhã já lá não estão. esse mar azul que se recusa reflectir o céu e nos devolve o sal aos lábios, para que possamos ser amantes por mais um dia. hoje, estou triste e já sei porquê. estou triste, porque nunca irás partilhar este sonho comigo.