quinta-feira, 4 de junho de 2015

fizesse eu da imaginação realidade

não gosto de introduções. gosto de pensar que, entre nós, não é, nunca foi e jamais serão necessárias introduções. sonho que fomos dados a conhecer um ao outro bem antes de darmos o primeiro suspiro. tenho mil e uma teorias sobre como isso é possível contra todas as evidências de que não é. ainda assim, eu acredito. é nisto que eu acredito. é a minha religião, a minha força de viver, a minha vontade para sair da cama. abro as persianas à espera que o raiar do sol te traga de empurrão ou a gota de uma nuvem te carregue como uma embalagem preciosa. à noite, andas tu perdida a semear, em meus sonhos, alegrias. alegrias essas que se transformam em memórias que, por mais falsas que sejam, são o melhor dos meus dias. pudesse eu explicar-te a dor que sinto ao acordar e perceber que é tudo um sonho. um sonho carregado de outros tantos sonhos e cada um está ferrado com unhas e dentes em mim. como eu gostava de conseguir fazer entender que, por mais que magoem, a dor de os remover de mim seria excruciante ao ponto da morte. não a morte física, mas a morte da alma. a morte para a qual morrer é uma benção. tudo isto eu escrevo, tudo isto eu sonho, tudo isto eu conjuro e soletro símbolo a símbolo. deixo aqui um pouco do tu que há em mim. na verdade, sou eu. tudo isto sou eu e toda tu és minha, mas não no sentido que me traria prazer infinito. és a minha criação, a minha doce fuga da realidade, quando tudo o que eu mais quero é um pouco de coragem. só um pouco mais de coragem para sair da fantasia e correr para ti, onde tu estás de verdade, mas não esperas por mim. não me reconhecerias como eu te reconheceria, como se te tivesse visto horas antes. quiçá nem te lembra a minha existência e sou nada mais que uma pedra fora do lugar na calçada por onde passas uma vez, porque te perdeste pela cidade a pensar noutra coisa qualquer. quem me dera ser essa coisa qualquer, quem me dera ser a tua colher, quem me dera que pensasses em mim. eu só queria que pensasses em mim numa fracção de uma fracção daquilo que eu penso em ti. não acreditas, mas essa quantidade ínfima é um oceano que se estende para lá do horizonte que o horizonte tem. agora, vou adormecer uma vez mais e encontrar-te onde te guardei. espero o dia em que não te encontro nos meus sonhos, mas entre os lençóis que abro de manhã.