quarta-feira, 3 de outubro de 2012

para a rapariga de cabelos cor-de-sol

agradeço a todo o eterno,
infinito e imensurável,
a paz do meu inferno
e vivência deplorável.

a tua imagem cega-me,
atormenta-me tal doença —
já sonhei ouvir "leva-me,
pelas praças de Florença."

sou eu um simples vulto
e nada mais do que isso:
a sombra de alguém oculto,
petrificado p'lo teu feitiço.

esse feitiço é um olhar,
teus cabelos cor-de-sol —
lá me roubam o respirar
e a voz de rouxinol.

há desejo — eu senti-o,
nas páginas deste conto —
um seixo atirado ao rio
a viajar de ponto a ponto.

meu amor a contra-relógio,
essa solidão é um instante,
só desejo algum contágio
p'ra me veres como amante.

esse contágio será temível —
imploraremos pela morte
e essa morte impossível
só fará o amor mais forte.

encontrar-te-ei, um dia,
à espera d'outro alguém,
com amor em agonia —
por amor que já não tem.

e os teus olhos verdes
afinar-se-ão de azul
pelas águas que perdes
por quem morreu a sul.

se as palavras falassem,
se falassem por mim,
se cedo te encontrassem
pelo cheiro a jasmim...

mas a dor é um lembrete
com os versos da canção —
canta a tua voz: derrete
este meu pobre coração.

salva-me deste render,
que jamais me apaixones!
escolho me esquecer
p'ra que não me abandones!

e este sonho, tão doce,
morre, assim, por inteiro.
a realidade antes fosse
de quem a sonhou primeiro.

isto eu sei, e juro que sei:
o nome que cedo herdaste,
mas não sei se te encontrei
ou se tu me encontraste.

já só queria que o tempo
cavalgasse um caracol,
aprisionando, num momento,
teus cabelos cor-de-sol.

nesse momento, eu vi
e soube desde então:
fiquei, porque me perdi,
amei... porque não?