há dezassete anos atrás, um jovem casal fugia para viver do amor. levavam consigo apenas dois sacos de esperança e uma mochila de força. porque fugiam? ninguém suportava vê-los juntos, a namorar ao pé do rio, em frente à igreja ou a dançar no café. após muito correr, saltar, esconder e fazer amor na arrecadação do lavrador, encontraram um farol abandonado. pareceu-lhes muito bem, decidiram viver lá. ela estava grávida e ele era trabalhador. ela deu à luz meses depois.
ao longo dos anos o farol tornou-se um lugar excepcionalmente bonito. era simples, uma casa de sorrisos. ele consertou tudo o que estava partido, substitui tudo o que faltava, até o velho farol rejuvenesceu e tornou a iluminar o oceano. ela cozinhava empadão e chamava os rapazes para jantar.
sete anos passaram desde que decidiram ser uma família ali, naquele farol à beira mar. o pai desapareceu, a mãe desapareceu, o rapaz ficou sozinho. o que aconteceu? ninguém sabe, é uma história para outra altura. trágica, sem dúvida.
o rapaz, a quem as pessoas da vila chamavam 'o pequeno faroleiro', celebra o seu sétimo aniversário hoje. nem se lembrou, desta vez a mamã não vai acordá-lo com um pequeno-almoço delicioso. no ano passado havia panquecas com mel, leite fresco e cereais que foram usados como projécteis numa batalha feroz, o rapaz escondia-se nos lençóis e a mãe atrás da porta. ainda de pijama, correu pelas escadas e tirou as chaves da mão da pai, uma caça ao bandido que terminou com a mãe a ralhar com os dois rapazes por irem para o mar com a roupa vestida! mas este ano, tudo é diferente.
o pequeno faroleiro desbobina a sua rotina diária pela ducentésima trigésima quarta vez. acorda às 6:43 da manhã, desliga o farol e volta para a cama. acorda de novo às 9:37, passa a cara por água e come um pouco do leite e pão fresco que todos os dias lhe deixam à porta entre as 7 e as 8. durante o resto da manhã patrulha as praias, procura conchas extraordinárias para a sua colecção e gaivotas presas no lixo das pessoas da vila. a rondar o meio dia, abriga-se à sombra debaixo das rochas da falésia das mil mortes enquanto espera que um insensato peixe morda o seu isco. são 14:23 e já há almoço a puxar a linha! uma pequena sesta na erva de pasto ali perto e uma corrida pelos campos dos agricultores. com uma alface aqui, uma batata ali e um ovo acolá faz-se uma alimentação equilibrada. à noite, depois de lavar os dentes e reacender o farol, há tempo para ler as aventuras do pai e acrescentar as suas próprias. quem sabe, talvez um dia, a bela madalena oiça contar lá na vila as suas heróicas histórias contra o feroz caranguejo azul ou aquela em que apanhou o peixe de 5 kilos!
às vezes senta-se no degrau da porta de entrada e olha o caminho que leva à vila, lá em baixo. imagina-se a brincar à apanhada, às escondidas, a escutar a professora com os outros meninos da sua idade. pensa no quão mais bonita será a pequena madalena ao perto. sente saudade do beijo da mãe, do abraço do pai, de se esconder no meio deles nas noites em que a tempestade estava mesmo zangada. mas graças ao trabalho do seu pai, o farol voltou ao activo e o comércio na vila nunca esteve melhor. novamente chegam embarcações com mercadorias fantásticas, provindas de todo o mundo. o pequeno faroleiro é o único a quem o seu pai ensinou a manobrar os complicados mecanismos que fazem aquela luz iluminar o mar. um pequeno génio condenado pela necessidade das gentes.
o rapaz, a quem as pessoas da vila chamavam 'o pequeno faroleiro', celebra o seu sétimo aniversário hoje. nem se lembrou, desta vez a mamã não vai acordá-lo com um pequeno-almoço delicioso. no ano passado havia panquecas com mel, leite fresco e cereais que foram usados como projécteis numa batalha feroz, o rapaz escondia-se nos lençóis e a mãe atrás da porta. ainda de pijama, correu pelas escadas e tirou as chaves da mão da pai, uma caça ao bandido que terminou com a mãe a ralhar com os dois rapazes por irem para o mar com a roupa vestida! mas este ano, tudo é diferente.
o pequeno faroleiro desbobina a sua rotina diária pela ducentésima trigésima quarta vez. acorda às 6:43 da manhã, desliga o farol e volta para a cama. acorda de novo às 9:37, passa a cara por água e come um pouco do leite e pão fresco que todos os dias lhe deixam à porta entre as 7 e as 8. durante o resto da manhã patrulha as praias, procura conchas extraordinárias para a sua colecção e gaivotas presas no lixo das pessoas da vila. a rondar o meio dia, abriga-se à sombra debaixo das rochas da falésia das mil mortes enquanto espera que um insensato peixe morda o seu isco. são 14:23 e já há almoço a puxar a linha! uma pequena sesta na erva de pasto ali perto e uma corrida pelos campos dos agricultores. com uma alface aqui, uma batata ali e um ovo acolá faz-se uma alimentação equilibrada. à noite, depois de lavar os dentes e reacender o farol, há tempo para ler as aventuras do pai e acrescentar as suas próprias. quem sabe, talvez um dia, a bela madalena oiça contar lá na vila as suas heróicas histórias contra o feroz caranguejo azul ou aquela em que apanhou o peixe de 5 kilos!
às vezes senta-se no degrau da porta de entrada e olha o caminho que leva à vila, lá em baixo. imagina-se a brincar à apanhada, às escondidas, a escutar a professora com os outros meninos da sua idade. pensa no quão mais bonita será a pequena madalena ao perto. sente saudade do beijo da mãe, do abraço do pai, de se esconder no meio deles nas noites em que a tempestade estava mesmo zangada. mas graças ao trabalho do seu pai, o farol voltou ao activo e o comércio na vila nunca esteve melhor. novamente chegam embarcações com mercadorias fantásticas, provindas de todo o mundo. o pequeno faroleiro é o único a quem o seu pai ensinou a manobrar os complicados mecanismos que fazem aquela luz iluminar o mar. um pequeno génio condenado pela necessidade das gentes.